AS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS
DE TRABALHADORES NOTURNOS PERMANENTES DE
UM HOSPITAL GERAL FRENTE AO NÃO ATENDIMENTO DA NECESSIDADE SONO
POR
DIONICE FURLANI
INTRODUÇÃO
O trabalho noturno originou-se da necessidade do homem organizar-se em sociedade. Entretanto, após a Revolução Industrial, com o desenvolvimento da luz artificial e a demanda crescente de serviços e mercadorias, houve uma crescente necessidade do trabalho noturno. Este começou a atingir uma população cada vez maior de trabalhadores que tiveram uma mudança de hábito típica da espécie humana.
O homem é um ser
essencialmente diurno, executa suas atividades de dia e dorme de noite.
Entretanto, com o desenvolvimento do homem enquanto ser social e da demanda
necessária de serviços para manter o bem estar do mesmo, houve uma inversão de
comportamento. Muitos trabalhadores trabalham à noite e dormem de dia, criando
situações em que seu horário de trabalho entra em contradição com os horários
socialmente estabelecidos.
Todas as espécies biológicas,
inclusive o gênero humano, é equipada com um sistema de ritmo circadiano que
justamente sincroniza processos fisiológicos com as mudanças cíclicas na
iluminação, temperatura, atividade de predador/presa, do ambiente natural
(Moore Ede et al, 1985).
Na história humana, o homem
obedeceu às ordens dos relógios biológicos, permanece ativo de dia e descansa à
noite. Entretanto, com a necessidade de atividades nas 24 horas do dia, este
hábito está mudando.
As formas de organização do
trabalho que não levam em conta a variabilidade rítmica circadiana dos
indivíduos são prejudiciais aos trabalhadores. Não se pode exigir um mesmo
nível de produtividade em qualquer momento do dia para qualquer tarefa e para
qualquer trabalhador, pois os indivíduos se encontram em estados funcionais
diferentes nas 24 horas (Cipolla-Neto, 1981).
Dentre as desordens
temporais pela qual passa o organismo, as alterações de sono e repouso e o
trabalho noturno desencadeiam várias alterações à
nível biológico, social e espiritual no indivíduo que o executa. Essas
alterações estão relacionadas com o Sistema de Temporização Circadiana
(Cipolla-Neto, 1981).
Com a evolução tecnológica
e industrial o homem vem modificando suas necessidades, deixa de atender a
algumas necessidades para atender outras que para ele são prioritárias. O sono
é uma das necessidades que sofreram grandes alterações
devido a essas mudanças.
Os distúrbios no ciclo
sono-vigília, são de fundamental importância ao
organismo humano. O não atendimento da necessidade de sono e repouso
prolongados repercute sobre as demais necessidades.
O trabalhador que executa
suas atividades no horário noturno, que lida com vidas humanas, trabalha com a
doença e com a saúde, com a vida e a morte, com tristeza e alegria e
principalmente com o sofrimento, também possui necessidades que muitas vezes
não são atendidas, devido ao tipo de esquema social de trabalho.
Como Enfermeira, desde a
minha iniciação profissional, pude presenciar por muitas vezes essas situações,
até porque também já trabalhei no período noturno.
Várias indagações faziam
parte do meu cotidiano, quando tentava desvendar a problemática do trabalhador
noturno.
Várias indagações faziam parte do meu
cotidiano, quando tentava desvendar a problemática do trabalhador noturno.
Foi assim que surgiu o desafio de
compreender como os trabalhadores noturnos permanentes de um hospital geral,
mantém o equilíbrio da base das necessidades quando essas são alteradas pela
exposição prolongada do não atendimento da necessidade sono.
Para tanto se faz necessário
identificar as alterações da base das necessidades dos trabalhadores noturnos
permanentes, quando os mesmos são submetidos ao não atendimento da necessidade
sono.
Também buscou-se
identificar as necessidades que contribuem para a transformação de estados da
base. E as necessidades que os trabalhadores noturnos priorizam para manter o
equilíbrio da base das necessidades, após a exposição prolongada do não
atendimento da necessidade sono.
Fundamentada nestas considerações e
valorizando devidamente o tema proposto, a presente pesquisa traz como foco
central o homem e as Necessidades Humanas Básicas, afim de
facilitar as relação de trabalho e oferecer indicadores de melhoria da
qualidade de vida.
Para desenvolver o estudo foi utilizado
como elementos básicos do referencial teórico a Reeleitura das Necessidades
Humanas Básicas por Wilson Kraemer de Paula (1990).
O estudo foi desenvolvido com uma
abordagem quantiqualitativa junto a trabalhadores noturnos permanentes de um
Hospital Geral de Florianópolis, SC, entre maio de 1998 à
fevereiro de 1999.
A apresentação do estudo é composta de seis capítulos, a saber:
Capítulo
I- Introdução;
Capítulo
II- Referencial Teórico: A Necessidade de Sono e as
Necessidades Humanas Básicas do Trabalhador Noturno;
Capítulo
III- Trajetória Metodológica;
Capítulo
IV- O trabalho Noturno e as Necessidades dos
Trabalhadores;
Capítulo
V- Considerações Finais;
Capítulo
VI- Referências Bibliográficas.
Esse estudo poderá vir a se constituir
num novo olhar às questões do trabalhador noturno em instituições de saúde. De
forma subsidiar transformações e mudanças nas condições de trabalho noturno,
adaptando-as às características fisiológicas, psicológicas e espirituais do ser
humano, para que suas necessidades sejam atendidas e o trabalho aumente o
prazer e minimize o sofrimento.
Pretendo com esses
estudo trazer conhecimentos que possam sugerir outros parâmetros para
novos questionamentos, acerca do trabalho noturno e suas implicações na vida do
trabalhador, além de indicar formas de desenvolver um trabalho mais ergonômico
que se adapte ao ser vivo e sua relação de sobrevivência saudável com a
natureza.
REFERÊNCIAL TEÓRICO: A
NECESSIDADE DE SONO E AS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS DO TRABALHADOR NOTURNO
WILSON KRAEMER DE Paula nasceu em Santa
Maria, Rio Grande do Sul, no ano de 1942, lá passou sua infância e adolescência
junto com mais três irmãos. Filho de pai comerciante, adotou
o direito como sonho de profissão, pois desde jovem, já manifestava vontade de
mudar o mundo e pressentia que sua missão era a de ajudar as pessoas.
A crença que através da justiça ele
poderia transformar o mundo em um lugar mais digno para as pessoas, redimindo
os males e as desigualdades, durou até o dia em que ele descobriu a verdadeira
justiça de nosso mundo, uma justiça fria e cega ao ser humano. Depois disso
Wilson procurou entender mais o mundo do qual fazia parte, entrou para a
faculdade de filosofia.
Só entender o mundo não satisfez esse
sonhador inato. Sendo assim, Wilson decidiu que seria enfermeiro. Aos 24 anos,
isso em 1966, Wilson vem para Santa Catarina, onde iniciou sua vida
profissional como enfermeiro no Hospital Celso Ramos que também iniciava suas
atividades enquanto instituição. Deixou a chefia de enfermagem do respectivo
hospital 4 anos depois, para dedicar - se ao que sabe
fazer de melhor, ensinar seres humanos mortais a sonhar, a ousar e a
transformar a realidade a favor da humanidade.
Dentro da UFSC abraçou novamente a
causa " respeito e dignidade ao ser humano"
e como não poderia deixar de ser, pegou o que talvez tenha sido um dos maiores
desafios de sua vida, a Psiquiatria, revolucionando a maneira de assistir o
doente mental. Para isso reforçou sua formação acadêmica em Ribeirão Preto.
Posteriormente foi convidado a
participar das transformações que estavam ocorrendo no maior hospital
psiquiátrico do Estado, a Colônia Santana. Lá ele mudou muitas coisas. Mexeu
nas celas, fundou enfermarias, emergências psiquiátricas e acabou com os meios
convencionais de tratamento de até então: a insulina e o eletrochoque.
Em 1985 recebeu o titulo de mestre, ao
defender a dissertação que teve como tema a Enfermagem Psiquiátrica. Foi
coordenador do curso de Enfermagem da UFSC, criou o
Serviço de Atendimento às Necessidades Psicossociais, o Grupo de Estudos dos
Problemas do Álcool, a Comissão do Uso Indevido de Drogas e o Grupo de Estudos
de Problemas das Drogas.
Em 1991 conquista o título de doutor em
Livre Docência, após ter defendido a tese: TANGENCIANDO A TEORIA DE HORTA: UMA
ABORDAGEM SITUADA EM EXPERIÊNCIA PSIQUIÁTRICA.
Nos ano de 1995 as salas e corredores
da UFSC, pela aposentadoria, deixam de conviver com um de seus grandes
idealizadores, o mundo acadêmico não será o mesmo. Pobres acadêmicos que desse
"Professor", conheceram o que ficou na história, não terão a imensa
felicidade que eu tive de compartilhar seus conhecimentos, nas salas da
universidade ou nos corredores frios e sujos da Colônia Santana. Ensinando o
amor ao próximo, pelo ato de cuidar.
Ensinado-nos a entender e respeitar o doente mental, mostrando que atrás do louco ameaçador, há
um ser humano que só ficou louco por não ser entendido pela humanidade.
Esse homem cuja única ambição na vida
foi de transformar o mundo em um lugar melhor e ajudar as pessoas, aposenta-se
após 25 anos dedicados ao ensino, entretanto não afasta-se
totalmente, participa dos grupos ao qual deu origem e esta sempre disposto a
ensinar.
Em 1993 Paula realizou a Reeleitura da
Teoria das Necessidades Humanas Básicas. Aprovtada em concurso, para professor
titular do departamento de enfermagem. Até então, não existia uma teoria de
enfermagem que pudesse ser aplicada no ensino e na prática assistencial da
enfermagem psiquiátrica de Santa Catarina.
Sendo assim, esse estudo implementou
novas idéias ao raciocínio da autora, utilizando-se de alguns princípios
fundamentados da física e da matemática, tratando as necessidades dos seres
vivos como entes matemáticos.
2.1
- A Reeleitura das Necessidades Humanas Básicas por Wilson Kraemer de Paula
2.1.1
- Presupostos de Paula
Segundo Paula (1990):
Necessidades Humanas Básicas, "são
conjuntos de entes do ser humano cujas funções podem ser representadas pela
busca do necessário. As necessidades são identificáveis em qualquer estado em
que o indivíduo se encontre".
"Necessidade é o caráter do que é
necessário, sendo necessidade um vetor, qualquer ponto do espaço pode ser
considerado como o necessário. Necessidade é um vetor orientado no sentido e na
direção do necessário e representa a busca do necessário."
As necessidades podem ser fundamentais
ou particulares. As necessidades fundamentais representam a busca do necessário
e as particulares a soma ou multiplicação de
necessidades.
Necessidades Fundamentais, representam a busca de um único necessário, Paula (1990).
Necessidades Particulares, representam a soma ou multiplicação de necessidades, Paula
(1990).
"Necessários são as manifestações
correspondentes das necessidades e são estados de tensão
conscientes e inconscientes resultantes das mudanças de estado do indivíduo
provocadas pelas necessidades. É a diferença entre dois estados onde um
é obtido pela transformação (aplicação de uma função) no outro."
Segundo Paula (1990), a Bases das
Necessidades, são as necessidades psicobiológicas, psicossociais
psicoespirituais. A inter-relação das necessidades, representada pala
intersecção de duas subnecessidades, originando uma necessidade diferente.
Espaço de Necessidades são um conjunto de entes que apesar de
terem natureza diferente dos vetores no espaço, comportam-se como eles.
Boldrini et al (1980), citado por Paula (1990).
Sub-necessidades, são
necessidades encontradas em espaços de necessidades menores, Paula (1990).
Necessidades comprometidas são
necessidades que buscam mas não conseguem atingir o
seu necessário, não são atendidas.
Necessidades atendidas são necessidades
que buscam com sucesso o seu necessário, ou seja, são satisfeitas.
Manifestação de necessidades são
necessidades que surgem quando o meio entra em desequilíbrio.
2.1.2
- Entendendo a Teoria das Necessidades Humanas Básicas
Tomando como referencial Boldrini et al
(1980) Paula estabeleceu um constructo teórico de necessidades dos seres vivos
com fundamentação matemática, utilizando a álgebra.
A necessidade é representada por um
vetor, como é a força, ambas grandezas que possuem direção e sentido e
comportam-se como vetores representadas como espaços
vetoriais.
As necessidades estão sempre em
equilíbrio, segundo a propriedade IV das necessidades dos seres vivos, existe
um elemento simétrico que somado ao elemento nos fornece a necessidade nula ou
o equilíbrio.
"A cada necessidade (u), esta associado uma necessidade contrária (-u)." Ou seja
para cada necessidade fundamental existe uma outra necessidade contrária.
"A cada vetor corresponde um ponto
no espaço, logo, a cada necessidade corresponde um único necessário".
Segundo Boldrini et al (1980),apud Paula (1990), aplicando a propriedade dos vetores,
através da fundamentação da álgebra linear, pode-se interpretar as necessidades
através de propriedades:
I- Uma necessidade N
é a soma de várias necessidades que independente da forma como é somada sempre
vai ser a busca de um ou mais necessários.
II- Ao atender uma
necessidade N que é a soma de outras necessidades fundamentais não interessa
qual necessidade fundamental foi atendida primeiro.
III- Nas necessidades
existe um elemento neutro, uma necessidade nula que pertence a um conjunto de
necessidades, tal que, somada a qualquer outra, dá a outra.
IV- A cada
necessidade, esta associada uma necessidade contrária, a sobreposição de ambas
é o equilíbrio.
V- Ter uma
necessidade particular observada com uma determinada freqüência ou intensidade,
nada mais é do que observar a freqüência ou intensidade de uma outra
necessidade fundamental.
VI- Observar inúmeras
vezes uma necessidade eqüivale a observar inúmeras vezes a mesma necessidade em
diversos momentos .
VII- Ter uma
necessidade observada com uma determinada freqüência ou intensidade nada mais é
do que observar partes dessa freqüência ou intensidade.
VIII- Uma necessidade
multiplicada pela necessidade neutra é igual à própria necessidade.
As
necessidades possuí oito propriedades matemáticas, descritas acima logo são
espaços vetoriais.
Dentro de um espaço de necessidade pode
haver subconjuntos, espaços de necessidades menores (sub. necessidades)
ou sub. espaços.
Segundo Paula (1990), "Toda
necessidade admite, pelo menos, três sub. necessidades,
que são chamadas sub espaços triviais: o conjunto formado somente pela
necessidade nula, a própria necessidade e a necessidade oposta".
As necessidades podem ser fundamentais
ou particulares. Necessidades fundamentais são aquelas que representam a busca
do necessário.
Necessidades particulares representam a
soma ou multiplicação de necessidades.
De acordo com Paula (1990), Os
conjuntos de necessidades expressam uma totalidade (sub-espaço), que interfere
em outra totalidade (espaço) e por conseguinte, sobre
a totalidade maior (base de necessidades) que faz parte da concepção holística
do ser humano.
As necessidades ainda podem ser finitas
ou infinitas. E podem estar afetadas no presente como conseqüência de
necessidades não atendidas no passado.
Diz - se que um organismo tem Auto
Suficiência Interna, quando, por si e em si mesmo, é capaz de atingir um novo
estado, segundo o sentido, direção e intensidade da necessidade, Paula (1990).
A Auto Suficiência Interna pode ser
primária, secundária ou terciária.
Um organismo tem Auto Insuficiência
Externa, quando por si só, busca o necessário no meio externo através de
mecanismos percepto conceptivos. Essa insuficiência também pode ser primária,
secundária e terciária, Paula (1990).
Segundo Paula (1990), somando duas
necessidades de um sub. conjunto obtemos outra sub. necessidade no sub. conjunto. Ao
multiplicarmos uma necessidade de um sub. conjunto, a
necessidade ainda estará no sub. conjunto.
A intersecção de duas sub. necessidades é uma necessidade diferente. As necessidades Humanas Básicas segundo Mohana, citado por Horta apud Paula
(1990), podem ser vistas como Bases Das Necessidades: Psicobiológicas,
Pisicossociais e Psicoespirituais.
Segundo Horta (1979), citada por Paula
(1990), as necessidades Psicobiológicas, Psicossociais são comuns a todos os
seres vivos, respeitadas as suas especificidade, entretanto as necessidades
Psicoespirituais são características exclusivas dos homens.
Segundo Paula (1990), as necessidades
de Comunicação, Aceitação, Participação e Gregária formam um sub espaço para as
necessidades de Estima e Imagem.
Necessidades Humanas Básicas são estados conscientes ou
inconscientes manifestados pelo ser Humano que garantem a sua subsistência.
A necessidade de sono quando não
atendida pode desencadear no trabalhador noturno uma alteração na base das
necessidades.
Paula (1990), classifica as
necessidades dos seres vivos em Bases de Necessidades que são: Psicobiológicas,
Psicossociais e psicoespirituais.
Necessidades
Psicobiológicas
As necessidades psicobiológicas são
aquelas necessidades que garante a vida do indivíduo a sua subsistência.
Nutrição, regulação, oxigenação, hidratação, locomoção, sono e repouso,
integridade física, Integridade cutâneo mucosa, ambiente, cuidado corporal,
abrigo, sexualidade, exercício e atividade física, eliminação.
Necessidades
Psicossociais
Auto-imagem, forma como o
indivíduo se auto-define. Representa o que o indivíduo
vê e pensa de si mesmo. A auto - imagem é uma necessidade particular que forma
a base de todas a outras necessidades psicossociais, qualquer
necessidade psicossocial altera esta base.
Imagem é a forma de
definir o meio concreto e abstrato.
Auto-estima é necessidade
de ter emoções e sentimentos em relação a si próprio.
Estima é a
necessidade de ter sentimentos e emoções em relação ao mundo concreto e
abstrato.
Auto-aceitação é a
necessidade de estar de acordo consigo mesmo.
Gregária é a
necessidade de viver em grupo, ela esta diretamente interseccionada com as necessidade de aceitação, comunicação e participação.
Aceitação
é
necessidade humana de outros estarem de acordo com o sentir, o pensar e o
fazer.
Comunicação é a
necessidade de enviar e receber mensagem mediante símbolos, palavras, sinais,
gestos e outras formas verbais e não verbais.
Participação
é
a necessidade de concordar e discordar, informar e ser informado, delimitar e
ser delimitado.
Criatividade é a
necessidade de, a partir de idéias e coisas produzir
novas idéias e coisas. A Criatividade se manifesta através da Recreação e do
Lazer, cuja intersecção resulta na Aprendizagem, a Recreação
e o Lazer são tomadas como trabalho.
Recreação é a
necessidade de a partir da Criatividade reproduzir idéias e coisas.
Lazer é a
necessidade de, a partir da criatividade, produzir
novas idéias e coisas.
Aprendizagem é a
necessidade de adquirir conhecimento e/ou habilidade para responder a uma
situação nova ou já conhecida, de desenvolver conhecimentos e habilidades, e
inclui a necessidade de orientação no tempo e espaço.
Liberdade é a
necessidade de ter a possibilidade de vir a ser.
Espaço é a
necessidade de delimitar - se, ou seja, expandir-se e retrair-se.
Religiosidade
é
necessidade de ter uma crença, que não significa necessariamente filiação religiosa, tomada como base finita é aquilo que ele
diz e como base infinita, é passível de transformação, Paula (1990).
Necessidades
Psicoespirituais.
Filosofia
de Vida (ou Ética) é a necessidade normatizadora, ou seja, a necessidade que
determina a qualidade e quantidade dos necessários.
Terapêutica é a
necessidade "reintegradora", aparece quando o indivíduo, por si só,
não muda de estado.
2.2
- O SONO DO TRABALHADOR NOTURNO: ACHADOS DA LITERATURA
2.2.1
- O Trabalhador e o Trabalho em Turnos.
O trabalho em turno representa 20% a
25% da força de trabalho da população americana e, estes indivíduos submetidos
a este modelo, quando comparados com a população em geral, apresentam propensão
duas a cinco vezes maiores de adormecer durante as atividades. (Montanha,
1996).
Segundo Cipolla-Neto (1981), os
trabalhadores queixam-se de dificuldades de dormir durante o dia - sonos
curtos, interrompidos, não reparados e de dificuldades em se manter acordados
durante o turno da noite, principalmente das 3-4 horas da madrugada. Estas
perturbações se dão devido as alterações do ritmo
circadiano do sono/vigília, decorrentes das mudanças periódicas do horário de
trabalho.
Ferreira (1985), em um estudo realizado
entre 1250 trabalhadores brasileiros em turnos alternantes, no sistema 3x8
(manhã - tarde - noite), cada turno com duração de 8 horas. Foi observado que
os horários mais comuns de trabalho foram:
( TM )- turno da
manhã (06:00 às 14:00h)
( TT )- turno da
tarde (14:00 às 22:00h)
( TN )- turno da
noite (22:00 às 06:00h).
Esta população quando perguntada sobre
a qualidade de sono após cada turno de trabalho, respondeu:
após o TM- 10% não
dormem bem;
após o TT- 7.5%
não dormem bem;
após o TN- 50% não
dormem bem.
Os trabalhadores do turno da manhã, tendem a acordar muito cedo para trabalharem, entretanto a
sua hora de ir deitar não é antecipada. Disto resulta uma diminuição na duração
de sono, sono paradoxal. (Ferreira, 1985).
Os trabalhadores do turno da tarde, não
sofrem alterações significativas em seu sono. Pois embora vão dormir mais tarde
não necessitam acordar cedo. (Ferreira, 1985).
Trabalhadores do turno da noite, tem no sono diurno grandes perturbações tanto na sua
estrutura interna, quanto na sua duração, que é bem menor que a de um sono
noturno.(Ferreira, 1985).
Os distúrbios de sono determinam para o
trabalhador e para a sociedade, inúmeras repercussões. Nos setores de serviços
básicos como segurança, saúde, transportes, os erros dos trabalhadores em
turnos que prestam serviços a população podem ser fatais.
Leger (1995), em suas pesquisas afirma
que o custo dos acidentes relacionados com a sonolência só no
ano de 1988, alcançam a cifra de quarenta e três a cinqüenta e seis
bilhões de dólares.
O trabalho em turnos se assemelha à
condição da mudança de fuso horário, pois há o mesmo tipo de dessincronização
do sistema circadiano e um prejuízo do sono. A grande diferença está em que
neste sistema de trabalho nunca ocorre uma reacomodação dos ciclos, como ocorre
após uma viagem intermeridianos. No trabalho em turnos as variáveis ambientais,
os sincronizadores, estão sempre puxando o ciclo para padrão normal, e toda tentativa
de acomodação dos ciclos ao horário de trabalho (em turnos) é interrompida e
anulada nos dias de folga ou na rotação do turno.
A palavra circadiana foi introduzida
por Halberg (1959) e baseia-se nas palavras latinas circa, que significa sobre, e dies,
que significa um dia. O ritmo se refere a uma seqüência de acontecimentos que
se repetem através dos tempos pela mesma ordem e com o mesmo intervalo.(Clancy
et al, 1995).
Todos os animais dividem as vinte e
quatro horas do dia de forma sistemática e periódica, alocando, em momentos
determinados certas expressões comportamentais. Essa temporização
comportamental é altamente adaptativa, sendo necessária para a sobrevivência
individual e da espécie (Daan, 1981; Daan & Aschoff, 1982; Eskes,1982; Kenagy & Vleck, 1982).
De acordo com Reimão (1990), ritmos
circadianos são aqueles que se processam a cada vinte e quatro horas (período
de 24 +/- 4 horas). Ultradianos aqueles com ritmo inferior à
vinte horas, exibindo portanto mais de um ciclo completo a cada vinte e quatro
horas. Infradiano, ritmos com período de repetição superior a vinte e oito
horas.
Em um nível comportamental, a estrutura
circadiana dos surtos de atividade e repouso é a determinante de todas as
outras distribuições temporais. De acordo com as distribuições de seus surtos
de maior atividade nas vinte e quatro horas, os animais são classificados em
diurnos, noturnos ou crepusculares. (Cloudsley-Thompson, 1080).
Qualquer variável circadiana não se
mantém estável e constante ao longo das 24 horas, mas apresenta flutuação
diária e regular, filogeneticamente determinada, cuja finalidade é preparar o
organismo antecipadamente às alterações altamente previsíveis da alternância do
dia e da noite. As alterações circadianas não se dão somente quanto ao nível da
variável observada, mas principalmente, na capacidade do organismo em reagir
frente a estímulos ambientais e endógenos. (Cipolla-Neto, 1981).
Os trabalhadores em turno deslocam o
seu horário de deitar de se levantar conforme seu horário de trabalho. Isso não
significa que a estrutura interna do sono se tenha ajustado, porque todas as
características do sono/hora de dormir, de acordar, aparecimento do primeiro
episódio do sono paradoxal - estão relacionadas com flutuações circadianas de
outras variáveis, como a temperatura que, no caso do trabalhador em turnos,
estão também defasadas. (Foret, 1984).
Segundo o mesmo autor, em trabalhadores
em turno o que se vê é que os episódios de sono diurno, principalmente os
primeiros, além de terem uma duração menor, não apresentam a distribuição
temporal típica dos diferentes estágios do sono, nem mantém a proporção normal
destes estágios entre si.
Conforme as figuras abaixo: Figura 4
Figura 4 : Distribuição horária do sono
paradoxal (REM) e do sono de ondas lentas profundo (NREM), em função da ordem
dos registros de sono: A- sonos noturnos (controle); B- sono noturno de
recuperação após turno da manhã; C- sonos diurnos; e D- primeiro sono noturno
após vários turnos da noite.( Cf. J. Foret & º
Benoit. Étude du sommeil des travailleurs à horaires alternants; adaptation et
recuperation dans le cas de rotation rapide de poste (3-4 jours). Europ. J.
Appl. Physiol., 37:71-82, 1978.
Fonte: Cipolla-Neto. J.Fisiologia do sitema de temporização circadiana.
In---. Introdução ao estudo da
cronobiologia. São Paulo, 1981, cap.8, p.247.
Experiências mostraram que a adaptação
dos ciclos ao trabalho noturno só ocorreria após 21 jornadas noturnas
consecutivas e ininterruptas, e mesmo assim seria revertida em poucos dias
depois que o indivíduo voltasse a estar ativo no horário normal.
Esses dados nos ajudam a compreender
porque o sono diurno dos trabalhadores em turnos é qualitativamente e
quantitativamente deficiente, fazendo com que esta população sofra cronicamente
de privação do sono, o que tem percursões
O trabalho em turnos, apesar de estar
aumentando de forma acelerada na sociedade dos anos 90, não é uma invenção
desse século. Existe desde a época mais remota e surgiu da necessidade do homem
viver em sociedade e organizar suas atividades.
O conceito de trabalho em turnos é
bastante genérico, abrangendo inúmeras formas de organização temporal do
trabalho. Em geral, define-se trabalho em turnos em oposição ao trabalho normal
da média da população, compreendendo desde os turnos permanentes noturnos ou em
horários incomuns até os sistemas de plantões ou as recentes escalas flexíveis
de trabalho.
De acordo com Ferreira (1987), o termo
trabalho em turnos, se refere a uma forma de organização temporal do trabalho
na qual diferentes equipes de trabalhadores se rodiziam para garantir a
atividade da empresa num horário superior ao horário "administrativo"
de trabalho e que utiliza mais de um turno de trabalhadores.
Trabalho em
turnos são cada uma das formas de organização da jornada diária de
trabalho em que são realizadas atividades.
Em princípio pode-se distinguir o
trabalho em turnos como sistemas "permanentes" e "alternados".
Sistemas "permanentes" de turnos são aqueles em que alguém trabalha
em um determinado horário (por exemplo, turno diurno,
vespertino ou noturno) por muitos anos ou por toda a vida de trabalho.
Turnos permanentes são típicos para certos grupos profissionais como, por
exemplo, vigias ou guardas-noturnos, mas ocorrem com freqüências em outras setores; no Brasil são comuns nos serviços médicos e
de enfermagem. (Rutenfranz et al, 1989).
Segundo o mesmo autor, no Brasil são
também mais freqüentes as escalas de trabalho com turnos rodiziantes. Uma das
razões é provavelmente pôr motivos financeiros. Como o trabalho noturno tem
remuneração superior ao diurno, todas as turmas ganham o mesmo salário por
trabalharem em igual período.
Fala-se de dois sistemas de turnos,
quando se trata de dois turnos de oito horas de duração, realizados em cinco
dias, geralmente com horário diurno (das 6 às 14 h) e
vespertino (das 14 às 22 h). (Rutenfranz et al, 1989).
Denomina-se sistemas
de três turnos o conjunto de horários quando há trabalho na empresa de manhã, à
tarde e à noite. (Rutenfranz et al, 1989).
O trabalho em turnos contínuos, ou
turnos ininterruptos de revezamento, caracteriza-se pela não interrupção da
produção ou da prestação de serviços, durante 24 horas diárias e nos sete dias
da semana, nesse tipo de trabalho há necessidade de quatro turmas de
trabalhadores. (Rutenfranz et al, 1989). Por exemplo
serviços hospitalares.
Trabalho descontínuo são todas as
formas de horário de trabalho em que a atividade diária de trabalho é inferior
a 24 horas. (Rutenfranz et al, 1989).
Quando a atividade é contínua
, o turno é conhecido como turno semicontínuo, ou seja, há trabalho
durante as 24 horas diárias durante cinco a seis dias da semana, mas há
interrupção nos fins de semana. (Rutenfranz et al, 1989).
Os fatores ou causas que levam o
indivíduo a desempenhar suas atividades em regimes de turnos, são os mais
variados.
De acordo com Rutenfranz et al. (1989),
os turnos são utilizados como forma de organização do trabalho principalmente
pelos seguintes motivos:
Causas
Tecnológicas: Em industrias metalúrgicas ou químicas, certos produtos só
podem ser elaborados com alta qualidade se o processo produtivo não for
interrompido. Necessitam de temperaturas constantes e pressões permanentes,
além de processo a químicos, cujas reações, levam um tempo superior ao turno de
trabalho.
Além do que, nesses ambientes há um custo alta das maquinarias e essas requerem a utilização
durante todo o período para que haja lucros na obtenção dos produtos.
Atendimento
a população: No atendimento a população através da prestação de serviços
essenciais a comunidade como: transportes públicos, policia,
bombeiros, hospitais, clínicas, gás, telefone, serviços de eletricidade. Como a
qualidade de nosso estilo de vida atual depende em grande medida do setor de
serviços (ferrovias, correio, aeroportos, policia, hospitais defesa, etc.), só
pode reduzir os turnos se conseguir diminuir nossas exigências. (Rutenfranz et
al, 1989).
Imposições
econômicas: :Máquinas e
instalações caras só podem ser pagas num prazo sensato se forem mantidas em
funcionamento tanto quanto possível, isto é, diariamente. A introdução dos
turnos por razões econômicas tem sido muito discutida no momento, pois na
maioria dos casos implica maximização unilateral de ganho em detrimento das
condições humana.
No Brasil os motivos que levam a
introdução de turnos são freqüentemente dois fatores :
os técnicos - necessidade de continuidade dos processos de produção ou de
prestação dos serviços e dos níveis de consumo e vendas da produção.
(Rutenfranz et al, 1989).
Os motivos são variados, mas a
realidade é que o trabalho em turnos existe, apesar de ser extremamente penoso
ao ser humano que o executa.
Os comentários da legislação brasileira
são os que ainda estavam em vigor em outubro de 1988 (presentes na CLT) e os
que estão no capítulo II, Dos Direitos Sociais, da Constituição Brasileira de
5/10/1988. (Rutenfranz et al, 1989).
As regulamentações dos turnos estão
contempladas nas normas gerais da jornada de trabalho. Por jornada de trabalho,
entende-se, o período que vai do início ao término do trabalho sem descanso
( 2, par. 1 AZO); o turno ao contrário, é o período em que o empregado
tem que estar presente na empresa; o turno inclui tanto a jornada como as
pausas para descanso (Denecke E Neumann 1987).
No Brasil a definição de jornada de
trabalho (segundo a CLT) coincide com a República Federal da Alemanha, ao
estabelecer que "a duração normal do trabalho não exceda de oito horas
diárias, desde que não seja fixado expressamente outro limite". Segundo a
nova constituição, "a duração do trabalho normal não deverá ser superior a
oito horas diárias(...)". (Rutenfranz et al,
1989).
"A remuneração do trabalho noturno
será maior que o diurno"( artigo 7 , inciso IX, da nova
Constituição).( Rutenfranz et al, 1989)
Segundo Santos (1983), o artigo 379 da
CLT proíbe o trabalho em turnos da mulher, especificamente no período noturno;
a exceção se faz para as seguintes atividades:
a) empresas de
telefonia, radiotelefonia ou radiotelegrafia;
b) serviços de saúde e bem-estar;
c) casas de diversões, hotéis, restaurantes, bares e estabelecimentos
congêneres;
d) estabelecimentos de ensino;
e) cargos técnicas de confiança, ou postos da direção, gerência, assesoriamento;
f) industrialização de alimentos perecíveis;
g) nos estabelecimentos bancários (segundo Decreto Lei n 546 de
18/4/69);
h) em serviços de processamento de dados para computação eletrônica;
i) industrias de manufaturados de couro que mantenha contratos de exportação,
autorizados por órgãos competentes.
j) em casos de força maior, entendidos como: todo acontecimento
inevitável, em relação à vontade do empregador, para a realização do qual este
não concorre direta ou indiretamente (art. 50).
"Nos itens "f" e
"g", há necessidade de concordância prévia do empregado, de
realização de exame médico e de comunicação à autoridade regional d trabalho,
até 48 hs depois de iniciado o trabalho noturno ( único - art. 379). O
horário de trabalho da mulher não pode ser prorrogado sem que haja autorização
médica oficial constante de sua carteira de trabalho (art. 375)". (Santos,
1983).
A Constituição Brasileira dispõe sobre
a proibição de trabalhar à noite à menores de dezoito
anos (artigo 73, inciso XXXIII). (Rutenfranz et al, 1987)
O período noturno é compreendido entre
22h de um dia e as 5 h do dia seguinte (artigo 73, parágrafo 2 , da lei
n 5.452, de 1 de maio de 1943 - Consolidação das Leis do Trabalho).
(Santos, 1983).
A hora noturna tem duração de 52
minutos e 30 segundos (artigo 73, parágrafo 1 , da CLT). Isto eqüivale
a dizer que, trabalhando sete horas à noite ,
recebe-se o pagamento por oito horas. A média das horas de duração do trabalho
ininterrupto semanal é de 33,5 horas. (Rutenfranz et al, 1989)
A legislação brasileira ampara o
plantonista ao limitar a jornada de trabalho a trinta e seis horas semanais e
recomendar o pagamento do adicional noturno. As leis da França vão além -
embora autorizem uma jornada de até trinta e nove horas semanais, determina que
a extensão do turno não exceda oito horas.
Na Áustria, companhias que empregam
mais de cinqüenta trabalhadores em sistema de turnos devem, por lei, possuir um
médico em seu quadro pessoal e são instaladas a fornecer pagamento adicional
para os dias livres. Empresas japonesas têm adotado a prática de descansos
estratégicos durante o turno de trabalho, (Regestein; Monk 1991).
Segundo Souza (1985), os trabalhadores
que desempenham suas atividades em turnos de trabalho, principalmente no turno
noturno, vem negociando com sindicatos, empresas, questões que ultrapassam a
remuneração salarial e recaim sobre as questões de "condições de
trabalho". A partir dessas negociações a classe trabalhadora européia tem
conseguido semanas de trabalho mais curtas, (em torno de 32 horas semanais),
uma e meia a duas férias anuais, organizarem turnos mais curtos ( cinco a seis turnos diários), além de 30% a 40% de aumento
sobre os salários básicos.
Rutenfranz et al. (1989), coloca que
cerca de 10% a 15% das pessoas que começam a trabalhar em sistemas de turnos
com período noturno de trabalho não conseguem adaptar-se a este regime. Para
isso, contribuem as condições sociais prévias mas,
sobretudo, também as físicas e psicobiológicas.
Não se trata de uma seleção de pessoas
que tem mais chances de se adaptar a essa forma de trabalho, muito pelo
contrário, se faz necessário conhecer aspectos ergonômicos de adaptação aos
turnos, para que se possa dessa confrontação extrair recomendações ergonômicas
para a transformação da situação de trabalho - adaptar o turno ao trabalhador e
não o trabalhador ao turno.
O presente estudo tem como foco
principal o homem e as possíveis intervenções ergonômicas, necessárias à
melhoria das condições de trabalho.
"A intolerância ao trabalho em
turnos parece estar associada com uma amplitude baixa do ritmo de temperatura
corporal. (Moore; Richardson, 1985). Traços de personalidade como orientação
matutina, rigidez nos horários de dormir e dificuldade para
superar a sonolência tem sido apontados como fatores que dificultam o
ajustamento ao trabalho noturno." (Folkard; Monk, 1979; Akertedt, 1990).
Segundo Rutenfranz et al. (1989), os
critérios negativos para trabalhadores em turnos, já foram vistos por médicos
do trabalho - como Collier (1943) - há mais de 40 anos, entretanto, nos últimos
anos poucos critérios foram acrescentados. Assim as seguintes pessoas se
possível não deveriam aceitar os turnos:
·
Pessoas com indicações de doenças do estômago e do
intestino, tais como: inflamações repetidas da mucosa estomacal, úlcera de
estômago, assim como de duodeno. Os turnos provocam problemas físicos especiais
e, ao mesmo tempo, sempre trazem consigo horários de refeições irregulares. As
duas coisas podem ter efeito desfavorável nas funções biológicas do aparelho
digestivo.
·
Pessoas com diabetes incontrolada ou mal curada, assim como
pessoas com disfunção da tiróide não tratada.
·
Pessoas com epilepsia não devem ser empregadas em sistemas
de turnos que incluem o período noturno, já que , com
o trabalho `a noite, é quase inevitável a diminuição do sono que, em
determinadas formas de epilepsia, causa ataques repentinos.
·
Pessoas com estado de depressão. As depressões são
acompanhadas por distúrbios do sono e, por isso, pioram ainda mais a situação
do sono ruim ao se trabalhar em período noturno.
É desaconselhavel o emprego em turnos
de pessoas com emeralopia, já que, nos períodos noturnos, a diminuição é pior
do que durante o dia, dentro e fora da empresa. (Rutenfranz et al, 1989).
A idade parece ser um fator importante
para suportar os turnos noturnos. A medida que a
pessoa envelhece há uma tendência a apresentar maior matutinidade e
suscetibilidade à ocorrência de perturbações mais marcantes nos ritmos
biológicos. Pessoas matutinas sentem maiores dificuldades de adaptação em
turnos com período noturno, enquanto pessoas vespertinas suportam melhor.
(Rutenfranz et al, 1989).
A idade também tem um papel fundamental
na oscilação dos marcapassos endógenos que é significamente reduzida nos
idosos.
Os marcapassos circadianos oscilam com
uma amplitude reduzida e com mais rapidez com a idade, o que explica as queixas
de despertar precoce, de interrupção de sono e a diminuição da capacidade de
adaptação do ciclo vigília/sono à mudança de turnos de trabalho nas pessoas
idosas. (Cipolla-Neto, 1981).
O quadro a seguir citado por Montanha
(1996), retrata as características individuais que podem dificultar a adaptação
ao trabalho em turnos.
Quadro
(1)
Fatores individuais prováveis de determinar problemas de adaptação em turnos
Mais de cinqüenta anos de idade. |
Pessoas que tem um segundo emprego. |
Carga de trabalho doméstica pesada. |
Indivíduos do tipo matutino. |
Histórias do
distúrbios do sono. |
Doenças psiquiatras. |
Histórias de abuso de álcool ou de
drogas. |
Histórias de queixas
gastrointestinais. |
Epilepsia. |
Diabetes. |
Doença cardíaca. |
Fonte primária: Tpas,D. I.; Monk, T. H. Work schedules.
In
Salvendy 6 [ ed]: Handbook of Factors. New York. John
Wiley and Sons, 1987, p. 819-43.
Fonte
secundária: Monk, T. H. Shift work.
In:
Kryger, M. H.; Roth, T.; Dement, W. C. Philadelphia: Saunders, 1989, cap. 33,
p. 332. Citado por Montanha (1996).
Além da extensão da jornada, é
necessário levar em consideração a forma sob a qual o sistema se organiza. Os
princípios da cronobiologia ensinam que esquemas que retardam a fase
circadiana, ou seja, rodam em sentido horário ( manhã
- tarde - noite) parecem ser melhor tolerados. (Akerstedt, 1990).
O quadro abaixo, reproduzido (Kryeger,
Roth e Dement). Indica os determinantes intrínsecos ao sistema de trabalho que
são capazes de interferir no processo de adaptação ao sistema em turnos.
Quadro
(2)
Fatores associados ao sistema de trabalho que podem ocasionar problemas de
adaptação ao turno de trabalho
Mais de cinco turnos noturnos
sucessivos sem descanso apropriado. |
Mais de quatro plantões noturnos de
doze horas sucessivos. |
Turno matutino iniciado antes das
sete horas da manhã. |
Rotação semanal. |
Folga inferior a quarenta e oito horas
após plantão noturno. |
Rotação antihorária (manhã - noite -
tarde). |
Turnos de doze horas envolvendo
tarefas de monitorização crítica. |
Turnos de doze horas envolvendo carga
da trabalho físico pesado. |
Trabalho excessivo em finais de
semana. |
Turnos divididos, nos quais a duração
do período de descanso seja inapropriada. |
Falta de descanso dos turnos. |
Turnos de doze horas com exposição a
agentes e substâncias perigosas. |
Esquemas muito complicados, que
tornem difícil traçar planos antecipadamente. |
Horas extras em excesso. |
Tempo prolongado de deslocamento
entre o lar e o serviço. |
Neste capítulo apresento a trajetória metodológica desta pesquisa, no que se refere à
descrição do local da pesquisa e da população do estudo e à descrição da forma
como foi realizada a coleta e análise dos dados.
O estudo foi idealizado a
partir da intenção de compreender como trabalhadores noturnos permanentes de um
hospital geral mantém o equilíbrio da base das necessidades quando essas são alteradas
pela exposição prolongada do não atendimento da necessidade sono.
3.1 - Tipo de Estudo
Pode ser caracterizado como
descritivo exploratório, localizado em um determinado contexto. É um estudo de
caso apenas nesse sentido, com uma abordagem qualitativa e
quantitativa, que utilizou a Reeleitura da Teoria das Necessidades Humanas
Básicas por Wilson Kraemer de Paula.
3.2 - Aspectos Éticos da Pesquisa
Segundo o Conselho Nacional
De Saúde, Resolução N 196, de outubro de 1996 (Anexo n 02), as
pesquisas envolvendo seres humanos devem atender às exigências éticas e
científicas fundamentais. Isso implica em:
1. Contar com o
consentimento livre e esclarecido do sujeito da pesquisa e/ou seu representante
legal. Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em linguagem
acessível e que se inclua necessariamente os seguintes aspectos:
a) a
justificativa, os objetivos e os procedimentos que serão utilizados na pesquisa:
b) os
desconfortos e riscos possíveis e os benefícios esperados:
c) os
métodos alternativos existentes:
d) a
forma de acompanhamento e assistência assim como seus responsáveis.
2. Prever procedimentos que
assegurem a confidencialidade e a privacidade, a proteção da imagem a não
estigmatização, garantindo a não utilização das informações em prejuízo das
pessoas e/ou comunidade, inclusive em termos de auto-estima, de prestígio e/ou
econômico-financeiro.
3. Assegurar aos sujeitos
da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno
social, acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa.
4. Dar liberdade ao sujeito
de se recusar a participar ou retirar seu consentimento, em qualquer fase da
pesquisa sem penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado.
O termo de consentimento
livre e esclarecido obedecerá aos seguintes requisitos:
a) ser
elaborado pelo pesquisador responsável expressando o cumprimento de cada uma
das exigências do Conselho Nacional de Saúde, Resolução N 196 de 10 de
outubro de 1996:
b) ser
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa que referenda a investigação:
c) ser
assinado ou identificado por impressão dactiloscópica, por todos e cada um dos
sujeitos da pesquisa ou por seus representantes legais: e
d) deve
ser elaborado em duas vias, sendo uma retida pelo sujeito da pesquisa e ou por
seu representante legal e uma arquivada pelo pesquisador.
5. Considera-se que toda
pesquisa envolvendo seres humanos envolve riscos. O dano eventual poderá ser
imediato ou tardio, comprometendo o indivíduo ou a coletividade.
Não obstante os riscos
potenciais, as pesquisas envolvendo seres humanos serão admissíveis quando:
a)
oferecerem elevada possibilidade de gerar conhecimento para atender, prevenir
ou aliviar um problema que afete o bem-estar dos sujeitos e de outros indivíduos:
b) o
risco se justifique pela importância do benefício esperado: o benefício seja
maior, ou no mínimo igual a outras alternativas já
estabelecidas para a prevenção, diagnóstico e o tratamento.
3.3 - Os Sujeitos e Local da Pesquisa
Os sujeitos do estudo foram
12 (doze) funcionários entre auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros,
que prestam serviços no turno noturno de um hospital geral de Florianópolis,
Santa Catarina, Brasil.
Por questões éticas, esses
trabalhadores foram representados na pesquisa por elementos e/ou fenômenos da
natureza, conforme escolha de cada um desses sujeitos. Assim ficaram sendo:
Sol, Lua, Estrela, Céu, Mar, Terra, Cristal, Pedra, Vento, Brisa, Tempestade e Amanhecer.
O hospital, local onde foi
desenvolvido o trabalho de campo, presta assistência gratuita a toda população
que procura seus serviços. Trata-se de um hospital generalista, que atende
diversas especialidades e cujos serviços servem de referência para todo o
Estado.
A escolha dessa instituição, deveu-se ao fato de que dispunha de livre acesso aos
sujeitos da pesquisa. Além do que, como funcionária dessa instituição, já pude
presenciar todo o processo de viver as situações de necessidades em razão do
trabalho noturno.
A pesquisa foi realizada
nas clinicas: cirúrgica, de terapia intensiva, e maternidade. Essas foram
selecionadas por serem locais que possuem rotinas próprias e diferenciadas,
solicitando do trabalhador noturno níveis de exigência diferenciados na
prestação da assistência. Entretanto, pelos critérios de seleção dos sujeitos e
facilidade no acesso as informações dos mesmos, a pesquisa ficou restrita às
clínicas: UTI (unidade de terapia intensiva); Centro Obstétrico, Alojamento
Conjunto; UTI Neonatal e Triagem Obstétrica.
Esse hospital possui um
número de 1621 funcionários ativos. Desses, 301 funcionários exercem suas
atividades exclusivamente à noite.
3.4 - Estratégias para Levantamento, Registro e Análise dos Dados
Os dados da pesquisa foram
coletados pela própria pesquisadora nos meses de outubro e novembro de 1998.
O primeiro passo para a
entrada na Instituição foi entrar em contato com a Comissão de Ética e Direção
de Enfermagem, para informar-me a respeito do protocolo de pesquisa exigido
pela instituição e apresentar-me através de uma carta que continha
: Título da pesquisa; orientadores; objetivos; métodos e aspectos éticos
do estudo. (Anexo n 01).
Encaminhei à Diretoria de
Enfermagem do Hospital uma carta de apresentação, solicitando permissão para o
desenvolvimento da pesquisa, contendo: Título da pesquisa; orientadores;
objetivos; métodos e aspectos éticos do estudo.
Nas unidades selecionadas,
Clinica Cirúrgica, Unidade de Terapia Intensiva e Maternidade, foi realizado um
contato prévio com as chefias e encaminhadas cartas, afim de
apresentar a proposta da pesquisa, solicitando a colaboração e esclarecendo
possíveis dúvidas, conforme modelo.(Anexo 01).
O primeiro contato com a
população do estudo foi realizado na passagem de plantão das unidades, onde
novamente me apresentei enquanto pesquisadora, mencionando a importância e o
interesse da pesquisa, expliquei os motivos da mesma, a forma de escolha do
entrevistado e os aspectos éticos do estudo.
Foi distribuído um
questionário (Anexo 04 ), que teve como objetivo
auxiliar na seleção da amostra. Os Critérios para a Seleção da Amostra foram os
seguintes:
Para serem incluídos na
pesquisa os indivíduos precisavam: trabalhar no turno noturno exclusivamente;
trabalhar no mínimo há um ano no mesmo turno; demonstrar interesse em
participar da pesquisa.
Após selecionados os
sujeitos da pesquisa, foi apresentado aos mesmos uma carta de apresentação que
continha: Título da pesquisa; orientadores; objetivos; métodos (Anexo n
01 ), além de uma declaração (Anexo 03) na qual foi solicitada autorização para
utilizar os dados coletados na pesquisa e mencionado meu comprometimento com
relação à utilização de forma sigilosa dos dados, respeitando os aspectos
éticos da pesquisa, anteriormente citados.
Os dados foram coletados através de entrevistas
semi-estruturadas, em instrumento próprio (Anexo 06), realizadas em locais
escolhidos pelos sujeitos da pesquisa, e através da aplicação de um instrumento
para conhecimento da realidade dos sujeitos, denominado a "História do
Cotidiano: Instrumento para Compreensão da Realidade"
Patrício (1990), o qual era preenchido pelos próprios sujeitos do
estudo. Este instrumento foi adaptado, neste estudo, para identificar o
cotidiano dos trabalhadores que vivem situações de exposição prolongada do não
atendimento da necessidade sono e o equilíbrio da base das necessidades de
trabalhadores noturnos permanentes de um hospital geral (Anexo 05).
Através da História do
Cotidiano pode-se perceber o Movimento do Cotidiano, o dia-a-dia dos sujeitos
da pesquisa, os acontecimentos que se repetem e que fazem a sua qualidade de
vida ser do jeito que é.
Esse movimento do cotidiano
mostra suas relações individuais e interpessoais com o mundo, seus hábitos,
suas questões de prazer e desprazer, felicidade e infelicidade. Seus hábitos de
nutrição, sono e repouso, recreação e lazer, atividade física, sexualidade,
seus sentimentos, seus valores, símbolos e significados.
O registro dos dados foram feitos nos próprios instrumentos da
pesquisa.
A análise dos dados foi conseguida através de leituras repetitivas
das falas dos sujeitos, tendo como guias particulares os objetivos específicos
do estudo.
Em seguida, os dados eram
lidos novamente, com o objetivo de identificar as categorias de análise para
discussão e posterior síntese compreensiva dos dados, buscando responder o
objetivo geral do estudo. Compreender como os trabalhadores noturnos permanentes
de um hospital geral, mantém o equilíbrio da base das necessidades quando essas
são alteradas pela exposição prolongada do não atendimento da necessidade sono.
A análise buscava
identificar as necessidades alteradas, suas interrelações, aquelas que contribuíam
para a transformação de estados de base e as necessidades que o trabalhador
priorizava.
A interrelação das
necessidades alteradas com a necessidade sono foi conseguida através do quadro
resumo das interrelações das necessidades de Paula (1990). Nesse quadro o
trabalho (necessidade de recreação e lazer) foi destacado das demais
necessidades alteradas do trabalhador noturno e estabeleceu-se a relação.
Após agrupar as
necessidades, era feita a classificação das mesmas em Necessidades Atendidas e Comprometidas
pelo trabalhador. Juntamente, agrupei-as utilizando a Classificação das
Necessidades Humanas Básicas de Paula (1990), (Anexo 08).
Essas foram classificadas
em necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais,
respectivamente.
Em um terceiro momento
realizei o trabalho de descrição dos dados e análise estatísticas das mesmos e finalmente a busca da compreensão através da
síntese de todos os dados.
O TRABALHO NOTURNO E AS NECESSIDADES DOS TRABALHADORES
Segundo Paula (1990), a Base
das Necessidades no ser humano está em equilíbrio constante. Entretanto, o
desequilíbrio pode se manifestar pela falta (manifestação de uma determinada
necessidade não atendida), ou pelo excesso. Tanto a falta quanto o excesso no
atendimento de uma necessidade podem ocasionar alterações na Base das
Necessidades e o surgimento de uma necessidade contrária.
Nos sujeitos da pesquisa,
as alterações na Base das Necessidades estão relacionadas com o não atendimento
da necessidade sono, devido ao esquema social de trabalho.
Nesse capítulo descrevo o
cotidiano dos sujeitos da pesquisa, bem como as manifestações de necessidades
atendidas e comprometidas devido a esse tipo de esquema de trabalho. A
interrelação dessas com a necessidade sono, as alterações na base das
necessidades, as necessidades que os trabalhadores priorizam e as necessidades
que contribuem para a mudança de estado.
4.1 - O Cotidiano dos Trabalhadores
Conforme demonstrado no
capítulo Trajetória Metodológica, os dados foram coletados através de
entrevistas e o instrumento para conhecimento e compreensão da realidade :
"História do Cotidiano" (Anexo n 05).
O objetivo de conhecer o
cotidiano dos sujeitos da pesquisa deu-se pela necessidade de compreender o
dia-a-dia dos mesmos. Identificar as necessidades que contribuem para a
transformação de estados da base, ou seja, identificar quais estratégias o
trabalhador noturno desenvolve para diminuir os danos causados pela Necessidade
Humana Básica de sono, que não é atendida devido ao tipo de horário de
trabalho.
Cada sujeito da pesquisa
ficou com o instrumento durante uma semana, no qual relatou diariamente o seu
dia. Na análise realizada pela pesquisadora, a mesma identificou nos relatos as
conclusões que os mesmos manifestam a respeito do trabalhar à noite. A seguir descrevo o cotidiano de cada
um dos sujeitos.
Estrela é do sexo feminino,
tem 30 anos, é solteira, reside em Florianópolis, estuda e trabalha. É técnica
em enfermagem e trabalha no período noturno há 3 anos,
é acadêmica de enfermagem, estuda e estagia em um Hospital em Itajaí. Acorda
sempre muito cedo, por volta das 5 horas, pega o ônibus, enfrenta a BR 101,
chega em Itajaí por volta das 7 horas.
Durante as manhãs assiste
aulas e desenvolve atividades do estágio. Algumas tardes
volta para Florianópolis, outras fica em Itajaí na casa de colegas do
curso. É nesse período que estuda e realiza trabalhos do curso. Nas noites em
que está de plantão sai de casa às 18 horas, inicia seu turno às 19 horas e lá
descansa por volta de 1 a 2 horas quando o plantão está calmo. Realiza
atividades de assistência de enfermagem a parturientes, puérperas e seus
recém-nascidos durante o ato de parir.
Seu plantão termina às 7
horas do dia seguinte. Entretanto, durante a semana, devido à universidade, ela
tem horário especial e sai às 5:45min. Nas noites que fica em casa relata
dificuldades para dormir, insônia.
Sinto - me estraçalhada por não dormir direito à
noite e trabalhar em um horário tão impróprio (Estrela).
Mar é divorciada, tem 31
anos, reside com o filho de 8 anos em um bairro de São
José. É técnica de enfermagem, trabalha no noturno há 3
anos e é acadêmica de enfermagem.
Acorda às 05h 50min com o
despertador, toma banho, prepara o café e o lanche para o filho levar para o
colégio, acorda o filho. Pega o ônibus às 06:30h, vai para a universidade onde
assiste a aulas e faz estágio no hospital. Às 12 horas retorna à sua casa,
aquece o almoço que preparou no dia anterior, almoça com seu filho e logo após
dorme, acorda geralmente com o despertador e realiza atividades da casa como:
lavar roupa, arrumar o apartamento, preparar o almoço do dia posterior.
À noite, nos dias de
plantão, sai de casa por volta das 18 horas. Quando fica em casa aproveita o
silêncio da noite para estudar, indo dormir sempre tarde. No plantão desenvolve
atividades de assistência a mulheres durante todo o processo de nascimento e a
seus recém-nascidos. Descansa 1 a 2 horas quando o plantão está calmo, sai do
plantão às 07 horas e vai direto para a universidade, onde fica ate às 12
horas.
Esse horário estranho de trabalho nos afasta do
mundo, nem o telefone toca, porque as pessoas sabem que dormimos de dia e não
querem interromper nosso repouso (Mar).
Sol é enfermeira, tem 32
anos, é solteira, reside em Florianópolis, trabalha no noturno há 5 anos. Faz mestrado em Filosofia de Enfermagem e participa
do corpo docente de uma universidade do estado.
Quando sai do plantão às 7
horas vai para casa, chega lá às 07h 30min, cansada, irritada e com muito sono,
toma um banho ouve música e dorme. Às 14 horas acorda, almoça, fica assistindo
TV, conversa com a irmã, estuda, prepara aulas e à noite, sem sono estuda, lê.
São 04, 05, 06:00 horas não consegui dormir,
cefaléia, irritação, estou trocando o dia pela noite. Procuro adaptar minhas
atividades conforme minhas necessidades. O trabalho noturno causa isso, dormir
de dia e ficar acordada de noite (Sol).
Consegue dormir melhor pela
manhã. Quando não está de plantão, vai dormir sempre muito tarde, 2, 3 horas da manhã. Geralmente não tem sono nesse horário,
só vai ter pela manhã. Começa o plantão noturno às 19 horas, assiste a
pacientes com problemas ginecológicos e auxilia parturientes na triagem
obstétrica, tem dificuldade para descansar no horário de descanso, devido a insônia.
Pedra é enfermeira, tem 32
anos, divorciada, é responsável pela educação de seu filho, dona de casa,
trabalha em dois hospitais no horário diurno das 13 às 19 horas e noturno das
19 às 7 horas. Além disso, faz mestrado em Filosofia de Enfermagem.
O dia de Pedra é corrido,
quando sai do plantão às 7 horas passa na casa do ex. marido para pegar o filho
que dorme lá, vai para casa, prepara o café da manhã e toma com seu filho.
Mesmo cansada e com sono, realiza atividades domésticas como: lavar roupa,
arrumar o apartamento, fazer compras e auxilia o filho nas tarefas da escola.
Prepara o almoço, almoça com o filho e à tarde, antes de ir trabalhar, deixa
ele no colégio. O pai vai buscá-lo às 18 horas e novamente ela tem que passar
lá para pegá-lo, pois trabalha até às 19 horas. Vai para casa, prepara um
lanche para os dois e depois vai dormir.
Devido às suas atividades,
Pedra só dorme à noite quando não esta de plantão. No plantão descansa
geralmente 1 a 2 horas. Se o plantão está agitado e ela não consegue descansar,
só vai dormir no outro dia à noite, ou seja, fica até 30 horas acordada.
O trabalho noturno quebra aquele esquema de
sono, quando o teu corpo vai relaxar, entrar no repouso, você já tem que pular,
então eu acho que ele se desestabiliza (Pedra).
Terra tem 34 anos, é
enfermeira, casada, tem filhos, trabalha no noturno há 17 anos. É professora do
técnico de enfermagem e faz parte também do corpo docente de uma universidade.
Terra acorda por volta das
09h20min, gostaria de dormir mais, geralmente nesse horário está indisposta,
irritada e ainda com muito sono. Entretanto, tem várias atividades para
executar durante a manhã. Auxilia os filhos nos deveres da escola e, junto com
a empregada, realiza atividades da casa como: organizar a roupa, a casa, fazer
compras, realizar o almoço, almoçar e encaminhar os filhos para a escola.
Às 12 horas sai de casa e se dirige para o hospital
onde dá estágio para um grupo de alunos do técnico de enfermagem e depois para
alunas da graduação em enfermagem. Retorna para casa às 23h30min, janta,
conversa com o marido e os filhos e vai dormir por volta da 1h30min. Nos dias
que está de plantão durante a semana troca seus plantões para poder dar aula,
sobrecarregando ainda mais seus finais de semana.
Eu acho o noturno muito cansativo, é antifisiológico,
porque é o período em que todo mundo repousa, é um período que tem escuridão
que predispõe ao repouso ao relaxamento e tu fica brigando com o teu organismo
para ficar acordado, atenta, trabalhando (Terra).
Cristal é enfermeira, tem
31 anos, é casada e mãe, trabalha no noturno há 2
anos, realiza trabalhos como digitadora e faz parte de um grupo de pesquisa da
universidade.
Sempre acorda por volta das
8 horas, apesar de ter vontade de ficar mais tempo na cama. Espera a filha
acordar e fica grande parte do tempo brincando e dando atenção à ela. Almoça e prepara a filha para o colégio. À tarde
realiza todas as atividades fora de casa (reuniões no hospital, banco, horas
extras no trabalho, clientes da digitação). Nos dias de plantão vai para o
hospital às 18h30min, lá presta assistência a recém-nascidos de risco, descansa
no plantão quando esse permite.
Chega em casa por volta das
07h30min, cansada com sono, toma café com o marido e vai dormir. Às 11h30min
acorda para almoçar com a filha.
O final de semana com plantões acaba
prejudicando o lazer (Cristal).
Tempestade é enfermeira,
tem 37 anos, é solteira, trabalha no noturno há 3
anos, faz mestrado em Filosofia de Enfermagem e é integrante de um grupo de
pesquisa da universidade.
Seu cotidiano é muito
diversificado, um dia é sempre diferente do outro. Acorda por volta das
07h30min. Pela manhã geralmente realiza atividades domésticas como: lavar
roupa, limpar o apartamento ir ao supermercado, quando não tem algum
compromisso de trabalho ou do grupo de pesquisa. À tarde fica envolvida com as
atividades do grupo de pesquisa e do mestrado. Quando tem plantão vai para o
hospital por volta das 18h30min. Lá presta assistência a puérperas e seus
recém-nascidos e geralmente não descansa no plantão.
No outro dia chega em casa
às 07h30min e se não tem nenhum compromisso vai dormir, não mais que 3 horas,
pois acha dormir uma perda de tempo.
Saiu do plantão a mil, o cansaço aparece e
desaparece durante o decorrer do dia. No final da tarde mesmo sem dormir sinto -
me condicionada a manter - me acordada e ter o dia disponível mesmo que cansada
(Tempestade).
Céu
é casada, reside em São José com o marido e duas filhas, é técnica de
enfermagem, tem 45 anos dos quais dedica 24 ao trabalho noturno trabalhando em
dois hospitais no horário noturno.
Céu acorda sempre muito
cedo, por volta das 6 horas. Prepara o café para a família, toma com o esposo e
depois inicia suas atividades domésticas como: arrumar a casa, lavar roupa,
preparar o almoço. Almoça com a família, descansa por 1 a 2 horas (quando não
tem nenhum compromisso), faz uma caminhada de 1 hora, à noite assiste TV e vai
dormir sempre tarde, porque geralmente não tem sono, sendo que algumas vezes
faz uso de medicação para induzir o sono.
Quando está de plantão, sai
de casa às 18 horas. No hospital desenvolve atividades de assistência a
puérperas e seus recém-nascidos, descansa por volta de
2 horas. Ao chegar em casa, toma café com o esposo e mesmo
cansada e com sono, desenvolve as atividades domésticas antes de ir dormir.
Dorme muito mal durante o dia devido ao barulho dos vizinhos.
Trabalho no noturno por necessidade, não vale a
pena, eu sempre digo, não vale a pena (Céu).
Vento tem 39 anos, é
casada, tem dois filhos, trabalha no noturno há 17 anos, tem dois empregos, um
diurno e o outro noturno.
Acorda por volta das 8
horas, apesar de querer dormir mais. Pela manhã realiza atividades domésticas
como: arrumar a casa, lavar roupa, ir ao supermercado. Prepara o almoço, almoça
e vai descansar, levanta no meio da tarde e começa a arrumar - se para ir
trabalhar.
Sai de casa às 18 horas. No
hospital presta assistência a parturientes e seus
recém-nascidos, descansa por duas horas. Às 7 horas sai do hospital e
vai direto para o outro trabalho, outro hospital, no qual desenvolve as mesmas
atividades que no primeiro. Pelo cansaço sente-se mais elétrica, mais agitada,
o tom de sua voz aumenta. Deixa o trabalho às 19 horas, chega em casa às 20
horas, cansada com sono e extremamente irritada. Prepara o jantar e só vai
dormir após a meia noite. No outro dia acorda um pouco mais tarde, 9 horas,
ainda cansada e inicia novamente suas atividades.
Quando não está de plantão,
nunca vai dormir antes da meia-noite e tem muita dificuldade para adormecer.
Com o trabalho noturno eu fiquei mais elétrica,
mais ativa, falo mais alto e depois de um plantão a audição fica mais aguçada,
a gente ouve qualquer ruído. Parece que não consegue mais desligar, leva muito
tempo para dormir (Vento).
Brisa tem 37 anos, vive com
seu segundo marido e seus dois filhos. É técnica de enfermagem, trabalha em
dois hospitais, em um de dia e no outro à noite.
Brisa levanta da cama às 09
horas quando não está de plantão. Pela manhã realiza atividades domésticas e
prepara o almoço. À tarde faz caminhada durante uma hora e descansa. Quando
está de plantão sai de casa às 17 horas, chega no plantão às 19 horas e lá
presta assistência de enfermagem a pacientes internados na UTI. Descansa por 2
horas e, para livrar-se do sono, passa a noite comendo e falando.
No outro dia chega em casa
às 08h40min, cansada, com sono e irritada. Tenta dormir, geralmente não
consegue porque há muito barulho dos vizinhos, acorda sempre péssima, almoça,
caminha e vai dormir cedo.
Acorda no outro dia às
05h20min, levanta, toma banho, se arruma e pega o ônibus às 06 horas, chega no
outro hospital às 7 horas. Trabalha também em uma UTI e no final da tarde sente
muitas dores musculares (pacientes pesados). Chega em casa às 20h30min muito
cansada, toma banho janta e dorme. Tem dificuldade para dormir, seu sono é agitado, desperta por qualquer ruído e já fez uso de
medicações para induzir o sono.
Sem sombra de dúvidas trabalhar à noite não é
uma tarefa fácil (Brisa).
Lua tem 44 anos, é
enfermeira, casada, tem dois filhos e dois empregos. Trabalha no horário
noturno há 18 anos.
Acorda às 8 horas e toma
café com a família. Pela manhã realiza atividades domésticas, auxilia os filhos
nas tarefas da escola, almoça e sai para trabalhar às 13 horas. Desenvolve
atividades de vistoria em hospitais, organizações de congressos envolvendo
assuntos relacionados à saúde, vai para casa às 19 horas, janta, toma banho, vê
TV e vai dormir. Normalmente dorme até às 3 horas da manhã, acorda e não
consegue mais dormir (já habituada com o horário de descanso do hospital).
Nessas ocasiões assiste TV e lê até o sono voltar.
Nos dias em que está de
plantão, sai de um trabalho e vai direto para o outro, iniciando no hospital às
19 horas. Ao chegar no hospital, sente-se cansada pelo trabalho que já executou
durante o dia e desanimada para enfrentar outra noite. Trabalha na unidade de
internação ginecológica.
Pelo cansaço acumulado do
dia descansa sempre no primeiro horário para poder suportar à
noite. No outro dia vai para casa às 7 horas, dorme pela manhã e novamente
trabalha à tarde.
Com o trabalho noturno eu coloquei minha família
em segundo plano, trabalhar à noite não é bom, se eu tivesse um salário melhor
eu trabalharia de dia. Eu acho que o trabalhador noturno tinha que ganhar muito
mais pelas perdas que ele tem, sabendo que a gente tem os ciclos do sono
alterados, somos pouco considerados, porque são muitas as perdas (Lua).
Amanhecer tem 33 anos, é do
sexo masculino, solteiro, trabalha no noturno há 12 anos. É técnico de
enfermagem e possui três vínculos empregatícios.
Seu dia é bem agitado,
dorme muito pouco. Quando está em casa, acorda cedo e vai trabalhar na
vigilância epidemiológica, fica lá até às 13 horas, sai e vai para o outro
emprego, trabalhando como socorrista em uma ambulância de atendimentos de
urgência. À noite trabalha no hospital, lá descansa por volta de 1 a 2 horas
dependendo do plantão.
Sai do hospital às 7 horas,
passa em casa, troca de roupa e vai para a vigilância. Às tardes que não está
trabalhando dorme e gosta de caminhar na beira mar para relaxar e conseguir
manter o ritmo de vida agitado.
Nas noites que não está no
hospital dá plantão na ambulância. Nas outras fica em casa dormindo, nunca
conseguindo adormecer antes da 1 hora, habituando-se a dormir pouco.
À noite prejudica muito as
pessoas, eu acho que o trabalho diurno é o mais indicado para qualquer
ser humano (Amanhecer).
4.2 - O Trabalho Noturno no Hospital e as Necessidades do Trabalhadores
O trabalhar à noite e o
dormir, para os sujeitos da pesquisa, tem significados diferentes, conforme as
concepções e as necessidades de cada um deles.
Todos os sujeitos (100 %),
responderam que trabalhar à noite é muito cansativo e estressante. Justificam
esse significado pelas seguintes razões: exercem outras atividades durante o
dia, são responsáveis pela educação dos filhos, possuem outros vínculos
empregatícios a fim de auxiliar na renda familiar, são estudantes, donas de
casa, esposas. Além disso, afirmam que o dia após o plantão é um dia perdido, improdutivo, no qual se tem vontade de
dormir o dia inteiro e à noite não se tem sono, um sono que acumula-se e sono
que não se recupera mais.
Alguns sujeitos da
pesquisa: Mar, Tempestade, Sol, Estrela, colocam suas percepções a respeito do
trabalho noturno.
Eu trabalho à noite porque eu faço faculdade
durante o dia, sou dona de casa, sou mãe, tudo isso fica comigo(...). Sempre tive a consciência que eu não sou uma pessoa
apta ao trabalho noturno, eu me submeti a isso, mas eu sou consciente que o
trabalho noturno não foi feito pra mim (Mar)
Acho o noturno extremamente cansativo, acho que
trabalhar à noite é pra prostituta e com prazer, eu
sempre digo isso, mas independente disso eu tenho paixão de trabalhar à noite
(Tempestade).
... à noite é muito
cansativo, a gente muda todo o nosso relógio biológico, ele fica todo
transtornado e ai a gente não consegue dormir à noite em casa, então se eu
pudesse escolher só um eu escolheria o diurno, poderia ser o dia inteiro mas só
o diurno (Sol).
Eu sinto muito sono, cansaço, quando eu estou na
aula,(...) isso é altamente prejudicial pro teu Eu.
Parece que tu tais mutilada, alguma coisa saiu, mas é uma coisa do teu
interior, da alma, parece que atingiu a tua alma, não é só a nível físico. Eu
fico entre o sono e a vigília, eu estou acordada mas
ao mesmo tempo estou em transe (Estrela).
Das 146 manifestações de
necessidades que apareceram relativas ao significado do trabalho
noturno, 49 (33,56%) das manifestações correspondem às necessidades
atendidas, enquanto que 97 (66,43%) das manifestações correspondem às necessidades
não atendidas.
Das manifestações de
necessidades atendidas, 26 (53,06%) representam as necessidades
psicobiológicas; 19 (38,77%) necessidades psicossociais; e 4 (8,16%) as
necessidades psicoespirituais.
Das necessidades
comprometidas (não atendidas), 56 (57,73%) foram necessidades psicobiológicas;
32 (32,98%) necessidades psicossociais e 9 (9,27%) necessidades
psicoespirituais.
Dos sujeitos pesquisados,
83,73 % responderam que trabalham no noturno, mas não gostam desse horário e
que se tivessem opção deixariam de trabalhar à noite.
Atribuem esse sentimento às muitas perdas que possuem (sono, alimentação,
disposição, vida social), que contribuem para dificultar a adaptação a esse
turno de trabalho. Estrela, Terra, Sol e Amanhecer expõem seus sentimentos:
Na verdade eu não gosto de trabalhar à noite,
pra mim é a primeira experiência e justamente eu estou no noturno por causa da
faculdade(...), os horários que eu teria que dormir
normalmente mesmo em casa eu não consigo dormir (Estrela).
Acho que é louco quem trabalha à noite, porque
esta jogando a sua vida, quer dizer está transformando a sua vida em uma
máquina desregulada e tu não sabes em que ponto vai chegar (Terra).
Trabalhar à noite não é bom se eu tivesse um
salário melhor eu trabalharia de dia (Sol).
...eu acho que à noite
prejudica muito as pessoas, eu acho que o trabalho diurno é mais indicado para
qualquer ser humano (Amanhecer).
Os sujeitos da pesquisa
relataram em suas entrevistas que o trabalhar à noite trouxe aos mesmos muitas alterações, se comparadas à época que
trabalhavam durante o dia.
Um
número de 79 (100%) manifestações de necessidades apareceram
quando o trabalhador noturno comparou o trabalhar à noite com o trabalhar de
dia, e identificou semelhanças e diferenças nos diferentes turnos de trabalho.
Os sujeitos pesquisados
atenderam a 6 (7,59%) das manifestações de
necessidades e deixaram de atender a 73 (92,4%) dessas mesmas manifestações.
Das manifestações atendidas
4 (66,6%) foram necessidades psicobiológicas; 1
(16,66%) necessidades psicossociais e 1 (16,66%), o mesmo valor das
necessidades psicoespirituais.
As manifestações não
atendidas foram 23 (31,5%) necessidades psicobiológicas; 44 (60,27%)
necessidades psicossociais e 6 (8,21%) necessidades psicoespirituais.
Entre os sujeitos que
trabalham à noite, 91,66% iniciaram suas atividades no período noturno e
mantêm-se nesse horário por necessidade. Destes, 66,6% afirmam trabalhar à
noite para garantir a manutenção de outro emprego em outra instituição, uma vez
que possuem um baixo salário, precisam do dinheiro para a sua sobrevivência e o
trabalhar à noite dá a opção de ter um outro emprego durante o dia. Por estarem
trabalhando à noite acabam tendo mais tempo livre durante o dia para realizarem
outras atividades e trabalharem 12 horas interruptas. Os sujeitos representados
por Vento, Pedra e Sol esclarecem os motivos pelos quais trabalham à noite.
Eu comecei a trabalhar à noite por necessidade,
porque eu morava longe e de dia tinha que fazer 6 hs;
à noite seria 12 x 60 hs(...) depois vieram os filhos então eu cuidava deles
durante o dia e trabalhava à noite quando o meu marido estava em casa. (Vento).
...à noite me dá essa
oportunidade de eu conseguir ter duas remunerações e conseguir manter o
sustento meu e da minha família. (Pedra).
Pelo salário, a gente precisa ter dois empregos
para se manter (Sol).
Cinqüenta por cento dos
sujeitos, apesar de não gostarem de trabalhar à noite, descobriram que o
ambiente de trabalho, no caso um hospital geral, possui alguns benefícios que o
trabalhar de dia não tem. O trabalho é mais produtivo e a
dinâmica é melhor, uma vez que à noite existe a possibilidade de uma
dedicação mais intensiva ao paciente e isso qualifica a assistência. Além do
que o ambiente do hospital é mais calmo, existe um menor número de pessoas
circulando, o plantão é fixo, o que favorece uma melhor interação entre os
membros da equipe. Vento, Pedra e Sol comentam essa questão:
...à noite é mais
calmo, tem um volume de pessoas menor circulando no hospital (Vento).
...você tem um plantão
fixo e você cria um entrosamento maior com as pessoas, uma melhor dinâmica de
trabalho (Pedra).
...à noite é que você
tem mais tempo de ficar com os pacientes, de dia você se detém às rotinas
administrativas (Sol).
Da população estudada,
83,33 % dormem menos que 4 horas no dia após o plantão, 16,66 % dormem 4 horas
e nenhum dorme mais que 4 horas. Justificam esses resultados devido aos
seguintes fatores: durante o dia sentem sono, entretanto devido ao sentimento
de perda de tempo ao dormir e o barulho de carros, crianças, telefone, vizinhos
não conseguem dormir. Além do que alguns sujeitos exercem outras atividades
durante o dia e não dispõem de tempo para o repouso. Lua, Brisa, Tempestade e
Céu justificam-se:
...eu fico péssima, não
consigo dormir de manhã, as vezes até tento fecho os olhos mais não adianta eu
estou sempre cansada.(Lua).
...tu não tem como
evitar o barulho o ruído dos carros. Sem sombra de dúvidas trabalhar à noite
não é uma tarefa fácil (Brisa).
Meu volume de sono é pequeno, eu não preciso de
10 horas de sono, eu dormindo 3 esta bom(...) é um
conceito meu, acho dormir uma perda de tempo muito grande (Tempestade).
...tu não consegue
recuperar o sono, porque de dia tem muito barulho é carro na rua é vizinho com
som ligado, é dentro da tua casa mesmo um entrando outro saindo é o
telefone,(...). Eu geralmente tomo um psicotrópico para dormir, um diazepam ou
um dormonid (Céu).
O dia após o plantão
noturno demonstrou ser extremamente difícil para esse tipo de trabalhador.
Das 61 manifestações de
necessidades surgidas no trabalhador noturno no dia após o plantão, 17 (27,86%)
são atendidas e 44 (72,13%) das necessidades ficam comprometidas.
As necessidades
comprometidas são : necessidades psicobiológicas 28
(63,63%); necessidades psicossociais 16 (36,36%).
As necessidades atendidas
são: necessidades psicobiológicas 12 (70,58%); necessidades psicossociais 4 (23,52%) e necessidades psicoespirituais 1 (5,88%).
O problema com o sono é
algo comum quando se troca o dia pela noite. Dos sujeitos estudados, 91,66 %
afirmam ter problemas com o sono. Sonolência durante o dia e o não dormir à
noite. Existe uma quebra no esquema de sono, tanto que alguns sujeitos 66,6 %
fazem uso de medicações para poder dormir à noite (Dormonid, Lexotam, Valium) e
não tem horário definido para o sono.
...eu nunca mais
consegui acordar na hora que eu me sinto satisfeita, então o despertador é uma
constante e é uma coisa que me incomoda,(...) Puxa vida já vou ter que sair da
cama de novo, eu nunca consigo sair a hora que eu quero (Mar).
...eu tenho muita
insônia, levanto as três horas da madrugada e fico até o outro dia sem
conseguir dormir, acordada irritada, querendo dormir, é um problema. (Vento).
...quando você tem
oportunidade de descansar, fico lá 1 hora, 2 horas descansando, quando eu levanto é pior, eu levanto
tonta, meio nauseada, meio sem vontade de fazer as coisas, meio pálida, uma
palidez cutânea que parece um cadáver, então tem momentos que é melhor você não
ir descansar por que na urgência é diferente do teu acordar. Em casa você
acorda lentamente, você acorda e o teu sono parece que diz deu, acorda e lá
não, você descansa um pouco e te batem na porta "RÁPIDO". Então essa
levantada muito rápida parece que te desequilibra (Pedra).
Eu já fiz uso de dormonid, lexotam
pra poder dormir, depois fui retirando aos poucos, hoje eu caminho e
falo, falo e fico comendo (Brisa).
Das 68 manifestações de
necessidades de sono surgidas durante o trabalho noturno, 31
(45,58%) das necessidades são atendidas e 37 (54,41%) das necessidades
ficam comprometidas.
Das manifestações de
necessidades atendidas, 14 (33,3%) são necessidades psicobiológicas; o mesmo
valor 14 (33,3%) são necessidades psicossociais e 3 (9,67%) são necessidades
psicoespirituais.
Das necessidades que são
comprometidas, 22 (59,45%) são necessidades psicobiológicas; 11 (29,72%)
necessidades psicossociais e 4 (10,81%) necessidades psicoespirituais.
As perdas permanentes de
sono e todas as alterações na ritmicidade circadiana, pelo qual passa o trabalhador
noturno, faz com que os mesmos se enquadrem dentro da população de indivíduos
que possuem a: " Doença Profissional do
Trabalhador em Turnos" e a "Síndrome da Mal Adaptação dos
Turnos" conseqüências do trabalho noturno, Moore Ede et al (1985).
Essas se referem às
implicações na ritmicidade circadiana, aos eventos ligados ao ciclo da vida
humana, ao desempenho mental e físico, a doenças mentais, na percepção da dor,
no aparecimento e intensidade das cefaléias, nas áreas da hematologia,
imunologia, nas manifestações dos processos de proteção imunológica e no
funcionamento do aparelho digestivo excretor, Cipolla-Neto (1981).
A alimentação foi um fator
que também teve alteração com o trabalhar à noite; 75 % dos sujeitos
responderam ter problemas com a alimentação, que se manifestam como : desorganização alimentar devido a alterações nos
horários das refeições. Essa desorganização se manifesta por um excesso de peso
devido à ingestão de alimentos com alto poder calórico e baixo poder nutritivo,
indisposição para comer e perda do apetite, devido a
mudança nos horários das refeições. Além disso, existe a sensação de mal estar
gástrico como: dores no estômago, náuseas e constipação. Mar, e Terra
argumentam a questão da alimentação.
...todas as vezes que eu
acordo eu tenho que tomar o café da manhã isso várias vezes ao dia, se eu
acordo ao meio dia eu tenho que tomar café com pão e não mais almoçar, não mais
jantar (Mar).
...o meu grande
problema é o ganho de peso (...), a maneira de me manter acordada é comendo,
não há organismo que agüente, o que acontece é que de manhã eu não tomo café,
não sinto fome, porque é o período em que eu durmo e eu levanto tarde, daqui a
pouco é hora de almoçar e eu não sinto vontade mesmo, parece que aquele final
de madrugada é a minha noite é por isso que eu não sinto fome. Aí eu fico
tranqüila até às 6 horas da tarde, depois eu tenho vontade de comer tudo
(Terra).
Dos sujeitos entrevistados,
50 % relatam ter algum problema relacionado à memória e ao poder de
concentração que teve inicio com o trabalho noturno.
...quando eu fui para o
noturno eu senti muita dificuldade não conseguia me concentrar, aquele sono era
sempre mais forte eu não achava nenhum momento que eu conseguisse me concentrar
porque eu estava tão acostumada a dormir todas as noites que eu não tinha
horário (Mar).
A memória também é uma coisa que eu acho que a
gente perde, a gente perde muito, principalmente pra quem está estudando e
precisa né (Estrela).
Outra coisa que eu sinto é um problema grave de
memorização e isso já é um desgaste do trabalho noturno (Brisa).
A sexualidade, apesar de
ser um assunto um pouco constrangedor para algumas pessoas, apareceu também
como um problema muito sério entre os trabalhadores noturnos. Dos sujeitos
pesquisados, 33,6 % referiram ter problemas com a sua sexualidade devido ao
trabalho noturno. Esses manifestam-se como: diminuição
do desejo sexual, realização de sexo por obrigação e dificuldade para encontrar
um companheiro, visto que o local em que poderiam encontrá-los, boates, bares,
festas, funcionam em seu horário de trabalho.
Então isso está prejudicando até a minha
sexualidade porque toda vez que eu penso em encontrar alguém
para ser um companheiro meu ao mesmo tempo eu penso, puxa vida, será que
quando eu tiver sono essa pessoa vai entender, será que ela vai entender que eu
vou querer dormir sempre que eu tiver uma folga,(...). Não só na sexualidade no
sentido da relação sexual com uma outra pessoa, mas na minha sexualidade
naquele desejo que eu tinha de me arrumar de me vestir bem (Mar).
Uma outra coisa que eu percebo é a vontade de fazer sexo que diminuiu eu só consigo quando eu
estou bem descansada (Vento).
O sexo(...) tu estais
muito cansada então ele te procura, as vezes tu até vai mas é mais por
obrigação, não por desejo então é uma coisa ruim, muito ruim para o casal
(Céu).
O conviver em sociedade
também fica prejudicado pelo trabalhar à noite; 75 % dos sujeitos da pesquisa
relataram ter problemas sociais pelo trabalho noturno. Existe um sentimento
muito grande de solidão nesses trabalhadores que trabalham enquanto as pessoas
dormem e dormem enquanto as pessoas trabalham. Devido ao esquema de plantões e
as atividades que eles exercem, trabalham nos finais de semana, feriados, datas importantes para passar com seus familiares, a família fica
em segundo plano.
...muitas pessoas
deixam de telefonar pra mim, as minhas amigas, meus parentes, pra me convidar
para ir a uma festa,, a um almoço, eles já não me ligam mais porque sabem que
eu estou descansando, e se não estou descansando eu não vou aceitar sair de
casa porque eu vou descansar assim que eu puder. Então isso tem me afastado
muito das pessoas (Mar).
A minha vida pessoal mudou, porque aonde que
estoura tudo quando a gente está estressado é na
família e se tu tenta compensar o teu desequilíbrio do trabalho em algum lugar
tu vais ter que extravasar, extravasa em casa (Terra).
Quando você esta lá à noite as
vezes você deixa Natal, deixa primeiro do ano, momentos importantes que você
poderia estar com a sua família (Pedra).
...pelo trabalho
noturno eu coloquei a minha família em segundo plano, fui obrigada.(Lua).
O envelhecimento precoce
apareceu em 33,6 % dos trabalhadores noturnos como causa do trabalhar à noite. Se manifestando como perda da elasticidade da pele e
aparecimento precoce de rugas. Tempestade e Sol relatam:
Envelhecimento da minha cútis, pelo trabalho
noturno (Tempestade).
Eu acho que o envelhecimento acontece, a gente
sempre sente umas rugas a mais quando se trabalha à noite (Sol).
Outros problemas apontados
pelos trabalhadores noturnos, foram: dor de cabeça,
nervosismo, depressão, dores no corpo, tontura, aversão à claridade, aumento do
tom da voz, diminuição da acuidade visual e taquicardia.
Com o trabalho noturno eu fique mais elétrica,
mais ativa, falo mais alto e depois de um plantão a audição fica mais aguçada,
a gente ouve qualquer ruído, parece que não consegue mais desligar, leva muito
tempo para dormir (Vento).
...o humor da pessoa
fica totalmente abalado, o meu humor fica muito abalado eu não tenho disposição
pra nada, a minha vontade é de dormir o dia inteiro (Terra).
Tem o stress, o cansaço e uma dor de cabeça que
eu acho que tem haver com o plantão noturno (Amanhecer).
Eu tinha uma dor muito forte aqui nos ombros,
fui ao médico e ele disse que não podia fazer nada porque não era nenhuma
lesão, era cansaço (Brisa).
Das 103 manifestações de
necessidades surgidas quando o trabalhador noturno expressou suas dificuldades
com esse esquema de trabalho, ele deixou de atender a 91 (88,34%) das
manifestações de necessidades e atendeu a 12 (11,65%) dessas.
As necessidades atendidas
foram: psicobiológicas 4 (33,3%); psicossociais 5
(41,6%); psicoespirituais 3 (25%). As necessidades comprometidas:
psicobiológicas 54 (59,34%); psicossociais 35 (38,46%) psicoespirituais 2 (2,19%).
Através das entrevistas com
os sujeitos da pesquisa, foi possível identificar 457 (100%) manifestações de
necessidades, dessas 342 (74,83%) correspondem às necessidades não atendidas
(comprometidas) e 115 (25,16%) as necessidades que foram atendidas.
Das 342 (74,83%) manifestações de necessidades não atendidas,
183 (53,59%) foram necessidades psicobiológicas; 138 ( 49,35%)
necessidades psicossociais e 21 (6,14) necessidades psicoespirituais. Conforme
Tabela abaixo:
Tabela no 1: Demonstração
das manifestações de necessidades não
atendidas (comprometidas) pelo trabalhador noturno permanente.
Nec. Psicobiológicas |
Nec. Psicossociais |
Nec. Psicoespirituais |
||
Integridade Física |
Recreação e Lazer |
|
||
Repouso |
Gregária |
Filosofia de vida |
||
Regulação |
Auto-imagem |
|
||
Percepção |
Auto-estima |
Religiosidade |
||
Sexualidade |
Criatividade |
|
||
Nutrição |
Aprendizagem |
Terapêutica |
||
Abrigo |
Espaço |
|
||
Orientação |
Liberdade |
|
||
Locomoção |
Realização |
|
||
Cuidado corporal |
Comunicação |
|
||
Das 115 (25,16%) manifestações de necessidades atendidas
no trabalhador noturno 115 (25,16%), 60 (52,17%) foram necessidades
psicobiológicas; 43 (37,39%) necessidades psicossociais e 12 (10,43%)
necessidades psicoespirituais. Conforme tabela abaixo.
Tabela: n 2: Demonstração das manifestações de necessidades atendidas
pelo trabalhador noturno permanente.
Nec. Psicobiológicas (52,17%) |
Nec. Psicossociais (37,39%) |
Nec. Psicoespirituais (10,43%) |
repouso |
recreação
e lazer |
|
regulação |
gregária |
filosofia
de vida |
nutrição |
auto
- estima |
|
integridade
física |
liberdade |
terapêutica |
locomoção |
espaço |
|
comunicação |
|
|
sexualidade |
|
|
abrigo |
|
|
4.3 - As Alterações na Base das Necessidades dos Trabalhadores Noturno
a) Alterações na Base das Necessidades Psicobiológicas ocasionadas
pelo Trabalho Noturno:
O trabalho noturno
compromete a Integridade física e a Integridade cutâneo-mucosa. O desempenho de
trabalhadores no turno da noite é comparável ao de um trabalhador diurno que
tenha passado uma noite inteira sem dormir. Os acidentes são mais freqüentes às
três horas da manhã, quando a temperatura corporal atinge picos inferiores e o
indivíduo está mais propenso ao sono.
...é um cansaço, (..)
você fica meio tonta, meio nauseada, meio sem vontade de fazer as coisas, meio
pálida, uma palidez cutânea que parece um cadáver (Pedra).
O trabalho noturno
compromete a Regulação, uma vez que a exposição prolongada do não atendimento
da necessidade sono pode desencadear alterações psíquicas, diminuindo o nível
de atenção a coordenação motora, o ritmo mental e
causando alterações de caráter.
...no outro dia você
fica irritada, eu noto que eu fico sem paciência eu fico nervosa, (..) o meu
padrão de resposta de conversa fica diferente, fica alterado (Pedra).
O trabalho noturno
compromete a Locomoção e a Motilidade, a privação prolongada do sono no
trabalhador noturno pode ocasionar déficit da atenção, desorientação, sintomas
neurológicos transitórios como tremores de extremidades, nistagmo horizontal,
transtornos do equilíbrio fraqueza na nuca e distúrbios de expressão de
linguagem.
Teve uma vez que os caras
tiveram que bater atrás do meu carro em uma sinaleira pra mim acordar, então eu
acho que é um stress físico, não é tanto mental é mais físico (Amanhecer).
O trabalho noturno
compromete o Cuidado corporal, indivíduos que trabalham à noite desenvolvem uma
fadiga crônica, associada com sonolência e irritabilidade fazendo com que a
auto-estima e auto-imagem do indivíduo fiquem comprometidas.
A minha sexualidade, naquele desejo que eu tinha
de me arrumar de me vestir bem (..), falta estímulo,
porque o tempo que eu teria para arrumar as unhas eu prefiro estar dormindo(..)
e eu sei que é pelo trabalho noturno, porque mesmo que eu tenha folga no sábado
e no Domingo, os dias que eu deixava para me produzir um pouco, atualmente eu
não tenho mais vontade ( Mar).
O trabalho noturno
compromete a Sexualidade, devido a perda permanente de
sono e todas as alterações circadianas, desenvolvendo sintomas de um estado de
fadiga crônica: sensação de cansaço irritabilidade psíquica, tendência a
depressões, pouca motivação e disposição entre outras para o sexo.
O sexo, eu não sinto desejo, vontade e eu já
tenho falado com outras colegas minhas que trabalham no noturno como eu, e
falam a mesma coisa (..), ele te procura tu tais muito
cansada, as vezes tu até vai mas é mais por obrigação, não por desejo então é
uma coisa ruim, muito ruim para o casal (Céu).
O trabalho noturno
compromete o Exercício e a Atividade física, pela perda permanente de sono o
indivíduo desenvolve um estado de fadiga crônica que dificulta a realização de
atividades extras.
Falta estimulo para fazer academia, fazer
ginástica porque eu sempre tive uma vida muito ativa, sempre me mantive em
academia, sempre fazia caminhadas regulares e atualmente eu troco tudo isso por
um período de sono (Mar).
O trabalho noturno
compromete o Sono e Repouso, um trabalhador noturno, ao dormir após seu
plantão, terá seu sono encurtado em pelo menos um terço, quando comparado com o
repouso normal da noite. A redução no período de sono causada pelo trabalho
noturno ocorre pela mudança forçada do horário de dormir, que passa a ser de
dia e é extremamente desfavorável devido a não adaptação dos ritmos biológicos
a esta inversão do trabalho noturno e repouso diurno.
Eu acho que é muito cansativo,
eu acho antifisiológico porque é o período em que todo mundo repousa, é
um período em que tem escuridão, que predispõe ao repouso ao relaxamento, e tu
ficas brigando com o teu organismo pra ficar acordada, atenta, trabalhando
(..), eu não tenho disposição pra nada, a minha vontade é de dormir o dia
inteiro (..), dormir com barulho com claridade, com a vida rodando a tua volta
e eu tentando dormir, tentando fazer o contrário de todo mundo, então isso pra
mim é difícil (Terra).
O trabalho noturno
compromete a Nutrição, à noite, a secreção de suco gástrico necessário para a
digestão é mínima, ou seja, há alteração no sistema gastrina-ácido-pepsina
(Phillips, 1991). Além do que alterações no horário de dormir, trabalhar,
comer, provavelmente causam distúrbios do apetite. Desconforto gástrico,
distúrbios do apetite, constipação e diarréia são freqüentes no trabalhador
noturno.
Excesso de peso, a maneira que eu desenvolvi
para me manter acordada é comer (Brisa).
O trabalho noturno
compromete a Orientação no Tempo e Espaço, a percepção, fadiga, irritabilidade,
sentimentos persecutórios, déficit da atenção, desorientação e distúrbios da
percepção seguem-se freqüentemente à privação do sono, ocasionada pelo trabalho
noturno.
Não consigo ficar atenta, minha audição meu tato
minha visão fica tudo muito afetado, tem um horário que tu fica meio bobona,
parece que tu não tá ali, os meus controles ficam meio
desequilibrados...(Estrela).
b) Alterações na Base das Necessidades Psicosociais ocasionadas
pelo Trabalho Noturno:
O trabalho noturno
compromete a necessidades de Gregária, uma vez que os sincronizadores sociais
não proporcionam condições para que ocorram relações normais entre o
trabalhador submetido ao trabalho noturno e os demais membros da sociedade. O
trabalhador noturno dorme enquanto todos estão acordados e trabalha enquanto
todos estão dormindo, trabalha nos finais de semana e feriados e folga enquanto
todos estão trabalhando.
Quando você esta no plantão à noite as vezes você deixa Natal, deixa primeiro do ano, momentos
importantes que você poderia estar com a sua família (Pedra).
O trabalho noturno
compromete a necessidade de Participação. Um dos maiores problemas para o
trabalhador noturno é a dessincronização que existe em seus horários, impedindo
que o mesmo acompanhe normalmente a vida de seus familiares, acarretando
problemas de relacionamento com a família e prejudicando sua participação em
atividades sociais: estudo, lazer, comunidade, rotinas diárias como horário de
refeições. Sua participação fica tão limitada que o trabalhador sente-se
excluído da sociedade.
Uma festa em família, sair com os amigos, sair à
noite mesmo, um divertimento, um lazer, a gente deixa muito de lado por causa
do plantão (Sol).
O trabalho noturno
compromete a Liberdade e o Espaço, o trabalhador noturno vivência um quadro
crônico de cansaço e fadiga e para ele é extremamente difícil organizar
qualquer atividade fora da família, uma vez que além do cansaço permanente ele
não dispõe do tempo necessário para tais atividades no momento certo. Assim sua
vida social fica limitada ao convívio de sua família.
...ultimamente sempre
que eu penso em sair de casa eu acho que eu estou perdendo um momento que eu
acho que eu deveria estar dormindo, então isso está me deixando muito caseira,
apesar de estar me deixando com um sentimento de solidão muito grande (Mar).
O trabalho noturno
compromete a Recreação e o Lazer, as atividades culturais e de lazer são
comprometidas, uma vez que o trabalhador noturno exerce suas atividades em um
horário pré determinado pela sociedade para a
realização desses eventos, não podendo assim participar dos mesmos.
...eu queria sair numa
sexta e estava de plantão de viajar, aproveitar o domingo, estava de plantão, (..)
aniversários, churrascos, passeios com datas fixadas né, pra quem tá querendo
comemorar e não dá pra mim (Estrela).
O trabalho noturno
compromete a Auto-aceitação, uma vez que o maior desgaste desses trabalhadores
é o fato de eles viverem sempre na contramão da sociedade, o que os impede de
adaptar os ritmos circadianos de suas funções fisiológicas às alterações de
hábitos, forçadas pelo sistema de turnos. Muitos trabalhadores têm uma posição
dupla a essa questão: são contra o trabalho noturno pelas dificuldades que o
mesmo traz as suas vidas. Entretanto precisam dessa forma de trabalho para
obter um maior salário, ter outros vínculos empregatícios e dispor de mais
tempo para outras atividades.
Eu gostaria de trabalhar em um só emprego de
dia, só que infelizmente a gente não tem condições pelo salário que a gente
ganha, então eu sou obrigada a me sujeitar a uma situação que
está ai, de uma certa forma é imposta, você vai porque quer, mas se você
não for não tem opção (Pedra).
O trabalho noturno compromete a Criatividade e o Aprendizado, pois o sono que é necessário para restaurar os níveis de energia do corpo fica comprometido. Além do que nestes indivíduos a temperatura corporal está diminuída durante o dia, o que da a impressão de que os mesmos estão ligeiramente dopados. Obviamente isso afeta os níveis de atenção, concentração e armazenamento de memória, necessários para a criatividade e o aprendizado.
..a gente vai ficando esquecida (..) não consigo me
lembrar o nome das pessoas, não consigo saber quem são... (Céu).
O trabalho noturno
compromete a Auto-estima e Auto-imagem. Indivíduos que trabalham à noite
desenvolvem uma fadiga crônica, associada com sonolência e irritabilidade
fazendo com que a auto-estima e auto-imagem do indivíduo fiquem comprometidas.
Em alguns indivíduos há um sentimento de "isolamento", de culpa por
dormir em um horário em que todos produzem.
...as vezes eu tenho um
tempinho livre eu penso em dormir, só que daí eu lembro das coisas que eu tenho
que fazer (..) eu sinto culpa de ter dormido apesar de você saber que você
precisa do sono (..) parece que você esta perdendo tempo (Pedra).
O trabalho noturno
compromete a Imagem e a Estima. Devido a perda
permanente de sono e todas as alterações circadianas, o trabalhador noturno
desenvolve sintomas de um estado de fadiga crônica: sensação de cansaço,
irritabilidade psíquica, tendência a depressões, pouca motivação e disposição.
A representação que ele cria do mundo muitas vezes fica diferenciada, o meio
que o cerca à noite é escuro, silencioso, opaco, sem brilho e com muito menos cor. Essa concepção pode ser trazida para seus
sentimentos, originando um indivíduo quieto, isolado, triste, acomodado
(acomoda-se a esses sentimentos, já que é impedido de comportar-se como um
indivíduo "normal", devido ao esquema social de trabalho do qual faz
parte).
Eu sinto muito sono, cansaço,(..).
A minha expressão muda, (..) minha fisionomia, a cor
da minha pele eu chego abatida, a pessoa fica muito abatida, (..) aquela cara
de cansaço e isso é altamente prejudicial pro teu Eu.. Parece que tu tais
mutilada, alguma coisa saiu, mas é uma coisa do teu interior, da alma, parece
que atingiu a tua alma, não é só a nível físico (Estrela).
c) Alterações na Base das necessidades Psicoespirituais
ocasionadas pelo Trabalho Noturno:
O trabalho noturno
compromete a Terapêutica, uma vez que a dessincronização do sono tem efeitos
nocivos nos ritmos circadianos, quer direta ou indiretamente. Problemas com o
sono levam esses trabalhadores a um maior consumo de álcool, cigarros,
comprimidos para dormir e tranqüilizantes.
...já fiz uso de
dormonid, lexotam pra poder dormir (Brisa).
O trabalho noturno
compromete a Filosofia de Vida. Geralmente os indivíduos que trabalham à noite
não gostam desse trabalho devido às inúmeras dificuldades que esse horário
traz. Entretanto o fazem porque almejam algo que o trabalhar à noite pode
oferecer (um melhor salário que pode representar uma casa melhor; um carro do
ano; uma viagem; guarda roupa novo. Ou mais tempo para
dedicar - se a outras atividades como educação dos filhos, realizar cursos,
fazer faculdade). Normalmente quando atinge seus objetivos, o trabalhador
noturno tende a abandonar esse esquema de trabalho, ou seja, para muitos
trabalhadores o trabalhar à noite é algo provisório.
Eu sempre tive a consciência que eu não sou uma
pessoa apta ao trabalho noturno (..), então eu me
submeti a isso, mas eu sou consciente que o trabalho noturno não foi feito para
mim (..), assim que eu puder eu volto para o diurno (Mar).
4.5 - Necessidades que Contribuem para a Transformação de Estados
de Base de Necessidades de Trabalhadores Noturnos Permanentes Durante a
Exposição Prolongada do não Atendimento da Necessidade Sono
Quando um indivíduo em um
determinado estado identifica um objeto como um necessário para que mude de
estado, deve ser aplicada uma função tal que leve ao estado de equilíbrio,
Paula (1990).
No trabalhador noturno
muitas vezes o estado atual que ele se encontra (Domínio), não está próximo ou
é diferente do estado que ele almeja (Imagem).
Em uma forma de compensar
as perdas ocorridas devido ao não atendimento da necessidade sono nesses
trabalhadores, esses sujeitos desenvolvem estratégias afim de
diminuir os prejuízos causados pelo horário do trabalho que executam. (Anexo
n 07).
a) Sono e repouso: O sono e
o repouso são as necessidades que mais contribuem para a transformação de
estado, quando os sujeitos não atendem a necessidade de sono pelo trabalho
noturno.
Tento compensar o cansaço e a falta de sono,
dormindo sempre que posso (Amanhecer).
Se eu não dormir eu fico muito cansada,
irritada, então eu procuro dormir (Cristal).
Quando eu posso durmo, mesmo que seja por pouco
tempo só para descansar (Mar).
b) Filosofia de Vida: A
filosofia de vida é a necessidade normatizadora, é ela que controla a
quantidade e qualidade dos necessários. Durante a pesquisa pude constatar que
os sujeitos da pesquisa, mesmo não sentindo prazer em desenvolver suas
atividades no horário noturno, o fazem porque possuem objetivos maiores que
precisam ser alcançados e o trabalhar à noite é uma forma de conseguirem.
Para mim, conseguir ficar no
noturno, eu estabeleci prioridades que agora tem sido o meu filho e a
minha universidade e assim que eu estou levando (Mar).
Estou no noturno por causa do meu objetivo que é
a minha faculdade, assim que eu terminar eu volto para o dia (Estrela).
c) Exercícios e atividades
físicas: São uma outra forma que os trabalhadores noturnos
descobriram para diminuir seu stress e cansaço físico.
O principal exercício é a caminhada. Eu já tive
problema com insônia pelo trabalho noturno, já fiz uso de Dormonid, Lexotam
para poder dormir. Agora eu faço caminhada, faço exercícios (Brisa).
Depois do plantão noturno eu fico muito
irritada, cansada e não consigo dormir. Então eu saiu
vou fazer uma caminhada, uma relaxada então quando eu volto me sinto melhor
(Céu).
d) Comunicação: O
comunica-se alivia o stress e é uma
forma que alguns sujeitos desenvolveram para manter-se dispersos durante as
noites de plantão.
Foi uma maneira que eu desenvolvi para me manter
acordada, falar, falar o tempo todo (Brisa).
e) Nutrição: Uma refeição
balanceada com frutas verduras, cereais, fibras. Auxilia a diminuir os
desgastes e o desequilíbrio orgânico causado pelas distúrbios
nos ritmos circadianos e pelas alterações nos horários das refeições, causados
pelo turno noturno.
O trabalho noturno causa uma desorganização
alimentar. Por isso tento me nutrir de forma balanceada, comendo frutas,
verduras, proteína e fazendo no mínimo três refeições no dia. (Estrela)
f) Gregária: A necessidade
de viver em grupo, de estar envolvido com outras pessoas, diminui o sentimento
de isolamento causado pelo trabalhar em um horário que a maioria das pessoas
dorme, e dormir enquanto todos trabalham.
Quando você esta lá à noite as
vezes você deixa Natal, deixa primeiro do ano, momentos importantes que você
poderia estar com a sua família, então você é obrigado a deixar porque você tem
o teu trabalho e acaba tendo outros vínculos com os teus colegas que também são
importantes (Pedra).
g) Aceitação: As vezes a única forma do trabalhador noturno continuar a
executar suas atividades no horário noturno, é deixar de estar de acordo
consigo mesmo, pelos objetivos que ele almeja alcançar.
Eu pretendo sair da noite, mas no momento eu não
tenho opção, eu preciso trabalhar à noite, eu preciso acabar a minha casa
(Brisa).
4.6 - Necessidades que o Trabalhador Noturno Prioriza para Manter
o Equilíbrio da Base das Necessidades, Após a Exposição Prolongada do não
Atendimento da Necessidade Sono
Sob o ponto de vista da
saúde e conforme o referencial teórico, todas as necessidades, mas
respectivamente as contrárias, devem ser atendidas segundo um determinado tempo
e espaço.
Priorizar as necessidades
segundo Paula (1990), é uma visão de pessoa. Os sujeitos da pesquisa de acordo
com a sua filosofia de vida determinam a quantidade e a qualidade de seus
necessários.
Trabalhando à noite, Pedra
atende à necessidade não dormir na busca de seu necessário que é garantir o
sustento de sua família, tendo para isso dois empregos.
Em não dormir, Pedra
compromete a necessidade dormir, essa necessidade uma vez não atendida
compromete a base das demais necessidades: repouso, integridade física,
recreação e lazer, nutrição, regulação, percepção, imagem, auto-imagem, estima,
auto-estima, gregária.
As necessidades que Pedra
prioriza, são: o não dormir em detrimento ao dormir, o trabalho em detrimento
ao repouso e família em detrimento ao trabalho.
Trabalhando à noite,
Amanhecer, Brisa, Céu, Cristal, Lua, Terra, Vento atendem
à necessidade não dormir na busca dos seus necessários que são melhorar suas
rendas financeiras, tendo para isso mais de um emprego, visto a baixa
remuneração de cargos e salários da categoria.
Em não dormir, Amanhecer,
Brisa, Céu, Cristal, Lua, Terra, Vento comprometem a necessidade dormir. Essa
necessidade, uma vez não atendida, compromete a base das demais necessidades : sono-repouso, nutrição, percepção, regulação,
gregária, liberdade.
As necessidades que
Amanhecer, Brisa, Céu, Cristal, Lua, Terra, Vento priorizam são: o não dormir
em detrimento ao dormir, o trabalho em detrimento ao repouso.
Trabalhando à noite,
Tempestade atende a necessidade não dormir na busca de seu necessário,
satisfação e prazer pelo trabalhar à noite.
Em não dormir, Tempestade
compromete a necessidade dormir, que uma uma vez não
atendida compromete a base das demais necessidades : repouso, integridade
física, auto-imagem, regulação, recreação e lazer.
As necessidades que
Tempestade prioriza são o não dormir em detrimento ao dormir, o trabalho em
detrimento ao repouso, a universidade em detrimento ao lazer.
Trabalhando à noite,
Estrela e Mar atendem à necessidade não dormir, na busca de seus necessários,
terminarem a faculdade e serem enfermeiras.
Em não dormir
Estrela e Mar comprometem a necessidade dormir, que não atendida
compromete a base das outras necessidades: sono-repouso, percepção, integridade
física, nutrição, sexualidade, estima, auto-estima, imagem, auto-imagem,
liberdade, espaço, recreação, lazer, criatividade, filosofia de vida.
As necessidades que Estrela
e Mar priorizam: não dormir em detrimento ao dormir, faculdade em detrimento à
família, o trabalho em detrimento ao lazer.
Os sujeitos participantes
da pesquisa, trabalhadores noturnos permanentes de um Hospital Geral, atendem
algumas necessidades em detrimento de outras. A necessidade normatizadora
"Filosofia de Vida" parece ser a responsável pela prioridade
realizada. Os trabalhadores noturnos se submetem à condição do trabalho noturno
provisoriamente para alcançar algum objetivo.
Com isso, parece que há uma
seleção (inconsciente) da necessidade a ser atendida. O trabalhador acaba
construindo estratégias (Anexo n 07), para diminuir o dano nos níveis
biológico, social e espiritual que esse tipo de trabalho acarreta.
O Sono e o não Dormir
do Trabalhador Noturno (continuação)
Desde o início da história
da civilização, o sono sempre despertou no homem curiosidade e medo.
A mitologia grega reflete a
concepção de sono como um fenômeno passivo e estabelece uma estreita correlação
entre o sono e a morte. Segundo os gregos, Nyxt (noite) gerou dois filhos,
Thamus (morte) e Hipnos. (SHAPIRO; DEMENT,1993). A
divindade Hypnos, cujas insígnias consistiam em um ramo de papoula e uma
cornucópia, distribuía o sono entre os mortais e outros deuses. Desde eras mais
remotas registra-se a variabilidade da dádiva ofertada por Hypnos. (Montanha,
1996).
O sono é definido como um
estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por estímulos
sensoriais ou outros, deve ser distinguido do coma, que é um estado de
inconsciência do qual a pessoa não pode ser despertada. (GYTON, 1988).
Segundo Montanha (1996), o
sono, do ponto de vista comportamental, pode ser definido como um estado de não
responsividade ao meio ambiente. Estes são descritos através de padrões de
ondas, obtidos por eletroencefalograma ou eletrocorticograma que descrevem, do
ponto de vista neurofisiológico, os estados de sono e vigília.
De acordo com FORET (1984),
o sono normal, típico de adulto jovem, quando o indivíduo está livre de
pressões sociais ou profissionais, é um sono noturno caracterizado por uma
estrutura interna com diferentes estágios de profundidade, por uma duração
própria e por uma relativa estabilidade da hora de deitar e acordar.
O sono não é uma coisa
homogênea e, na verdade, existem diferentes tipos de sono, diferenciáveis entre
si, pelos traçados EEG através da presença ou não de sincronização.
A dessincronização
eletroencefálica caracteriza-se por ritmo de baixa voltagem e alta freqüência , enquanto que sincronização diz respeito a uma
atividade de baixa freqüência e alta voltagem. O sistema de classificação dos
estados de sono e vigília mais empregado atualmente é
aquele proposto por Rechtschaffen e Kales. Este sistema leva em consideração,
além do padrão eletroencefalográfico, parâmetros derivados da eletromiografia
(EMG) e eletrooculograma (EOG). (BAKER, 1985).
Durante cada noite, uma
pessoa passa por estágios de dois tipos de sono que se alternam um com o outro.
São chamados de sono REM e não REM.
O sono de ondas lentas , sono não REM (NREM), corresponde um ritmo
sincrônico, pontilhado por ondas de forma peculiar, como fusos de sono,
complexos K e ondas lentas de alta voltagem. (SEPÚLVEDA, 1986).
A maior parte do sono , durante cada noite, é da variedade de ondas lentas;
este é o tipo de sono profundo, repousante, que a pessoa apresenta durante a
primeira hora de sono depois de ter estado acordada por muitas horas.
Convencionou-se a caracterizar o sono não REM em quatro estágios (estágios 1, 2, 3, 4).
Estágio 1
(um); representa uma transição entre a vigília e o sono, tem duração aproximada
de um a sete minutos. Ondas na freqüência beta e teta (4 a 7
Hz) substituem o ritmo alfa da vigília. Este estágio representa 5 a 10% do
tempo total do sono, dados do EMG revelam geralmente um tonus muscular
discretamente abaixo daquele encontrado na vigília e os movimentos oculares são
lentos e desconjurados. (BAKER, 1985).
Estágio 2
(dois); registros com "fusos de sono" espontâneos, havendo alguns
segundos de ondas regulares de 14 a 15Hz sobrepostas a uma atividade de fundo
de baixa voltagem, com ondas intercaladas de freqüências de 3 a 6Hz, neste estágio
o indivíduo é facilmente despertado. (MOUNTCASTLE, 1974).
Este estágio ocupa cerca de
45 a 55% do tempo de sono, é também reconhecido pela presença de fusos do sono
e complexos k. Chama-se de complexo k a onda bifásica (componente negativo
agudo e de alta amplitude por componente positivo mais lento) que ocorre
espontaneamente ou em associação a estímulos auditivos. (Montanha, 1996).
Estágio 3
(três) e 4 (quatro); (sono de ondas lentas ou profundo) quando ondas de
freqüência igual ou superior a 2Hz e amplitude de mais de 75 microvolts ocupam
de 20 a 50% do período (estágio 3) ou acima de 50% (estágio 4). (Reimão, 1990;
CARKADON; DEMENT IN KRYEGER; ROTH; DEMENT, 1989).
O sono de ondas lentas
constitui cerca de 10 a 20% do tempo total de sono (BAKER, 1985).
No sono de ondas lentas, as
ondas cerebrais são lentas e sincronizadas em comparação com o estado de
vigília; os níveis de funcionamento do sistema cardiovascular, respiratório e
autonômico ficam de certo modo reduzidos, porém estáveis.
O sono REM
,sono Paradoxal (posto que o corpo paralisado abriga um cérebro
extremamente ativo) ou sono Dessincronizado (visto que o eletroencefalograma
possui um padrão de baixa voltagem e alta freqüência), responde 20% do tempo
total de sono.(Carskadon; Dement in Kryeger, Roth; Dement, 1989).
Há várias características
importantes do sono REM: está associado com o momento em que se sonha; a pessoa
é mais dificilmente acordada por estímulos sensoriais; o tônus muscular de todo
corpo fica extremamente deprimido; as freqüências cardíacas e respiratórias
geralmente se tornam irregulares; ocorrem alguns movimentos musculares
irregulares, os movimentos rápidos dos olhos; o cérebro esta altamente ativo o
metabolismo cerebral pode estar aumentado em até 20%; ocorre invariavelmente
nos homens uma ereção do pênis e nas mulheres um umedecimento da vagina.
Definindo os estágios do
sono, procura-se compreender sua progressão no decorrer da noite. O fenômeno é
cíclico alternando-se os componentes NREM e REM ao longo de um período de sono.
O primeiro ciclo de sono,
do qual o indivíduo é despertado com facilidade, inicia-se pelo estágio 1 (um), que dura poucos minutos, quando então, irrompe o
estágio 2 (dois), prolongando-se por dez a vinte minutos e que cede lugar aos
estágios 3 (curta duração) e 4 (vinte a quarenta minutos). Aumentos
transitórios nos movimentos corporais e a reversão eletroencefalográfica do
estágio 4 (quatro) para o estágio2 (dois) precedem
usualmente o primeiro registro de sono REM, que aparece após setenta a cem
minutos do início do sono. (Carskadon; Dement in Kryeger; Roth; Dement, 1989).
O sono NREM predomina no
primeiro terço da noite, enquanto o sono REM distribui-se preferencialmente no
último terço, seguindo a marcação de um oscilador circadiano. (Farney).
Qualquer que seja o
propósito do sono, as espécies que manifestam esta necessidade, gastam muito
das 24 horas do dia dormindo. Nos primeiros meses de vida, os bebês passam a
maior parte do dia dormindo. Os padrões EEG de seu sono REM parecem surpreendentemente
semelhantes aos padrões obtidos quando estão acordados.
Os idosos tendem a dormir
mais durante o dia do que à noite, gastam menos tempo e sono profundo do que
adultos mais jovens. O que vale dizer ser a idade um fator importante na
caracterização do sono. (Tune, 1968; Akersted e Torsvall, 1989; Foret, Bensimon
e Vieux, 1981).
O estilo de vida do
indivíduo reflete-se em seu padrão de sono. Restrição crônica de sono noturno,
esquema de sono irregular ou distúrbios freqüentes de sono noturno determinam o
aparecimento precoce de sono REM, com incidência aumentada de fenômenos como
alucinações hipnagógicas, paralisia do sono e mioclonias hípnicas
(Internacional Classification of Sleep Disorders, 1990).
Quanto à distribuição dos
períodos de sono e vigília nas vinte e quatro horas, a população é constituída
por três representantes básicos: indivíduos matutinos ,
indivíduos vespertinos e os tipos indiferentes. (Foeret, 1983).
Indivíduos matutinos:
acordam cedo (5-7 horas da manhã), aptos para o trabalho e com um nível ótimo
de alerta. Constituem cerca de 10 a 12% da população.
Indivíduos vespertinos -
acordam muito tarde (12-14 horas), nesses indivíduos o melhor desempenho se dá
à tarde e à noite, os picos de máximo do seus ritmos
endógenos estão relativamente atrasados ( como exemplo a curva da temperatura).
Constituem aproximadamente de 8 a 10% da população.
Do ponto de vista
cronobiológico, existe também indivíduos que são caracterizados pela quantidade
de tempo despendida para o sono. Há aqueles indivíduos que necessitam de, no
máximo, 5h30 a 6h30 de sono, são chamados de pequenos dormidores; e aqueles que
necessitam de um tempo maior de 8h30 a 9h30 de sono, chamados de grandes
dormidores. A distribuição das fases sono diverge entre grandes e pequenos
dormidores. (Cipolla-Neto, 1981).
A uma duração média
preferida de sono em adultos saudáveis (sete horas e meia), segue uma
distribuição normal, sendo que 2% do total dormem menos que cinco horas e 2%
necessitam de nove ou mais horas. Existe uma tendência circadiana a alocar o
sono em torno das vinte e três horas ou meia noite, com um segundo pico menor
por volta das quatorze horas. (Reimão, 1990).
Assim como existe mais de um tipo de sono, existe também mais de um
tipo de vigília.
De acordo com Cipolla-Neto
(1981), a vigília pode ser dividida em dois grandes estágios.1-
A vigília com alerta ou com atenção mobilizada, que é situação fisiológica
necessária para que haja uma interação organizada do animal com o meio ambiente
(exploração, fuga e agressão na solução ou realização de tarefas). 2- Vigília relaxada, caracterizada por desatenção, repouso ou preparo
para o sono.
Entre o estado de sono e
vigília, existe estágios de transição, seja a sonolência (estágio 1), caracteristicamente mediadora entre a vigília e o sono;
seja a fase intermediária, caracteristicamente mediadora entre os estados de
sono e de vigília, no sentido emergente do sono, ou entre os estágios de sono
sincronizado e sono dessincronizado. (Cipolla-Neto, 1981).
Segundo Montanha (1996), o
sono matutino e o sono diurno divergem fisiologicamente. No sono matutino há
uma menor latência para atingir o sono REM, o episódio de sono REM dura mais
tempo, a proporção de estágios um e dois é maior e o tempo despendido com os
estágios três e quatro diminui.
As fases dentro de um ciclo
de sono variam de acordo com o momento do ciclo circadiano, para seres humanos
sincronizados com o trabalho diurno há uma duração maior do episódio de sono
dormido por volta das 23 horas. (Cipolla-Neto, 1981).
O organismo atinge um menor
nível de alerta por volta das 23 horas. Sendo que há um outro pico por das
12-14 horas, indicando uma tendência maior para entrar no sono nesse momento, o
que explica em algumas culturas o hábito da sesta.
A arquitetura do sono,
depende também da temperatura, há uma latência menor para entrar em sono REM e
uma duração maior desse episódios quando o sono é
dormido na fase ascendente da curva de temperatura. (Cipolla-Neto, 1981).
Segundo Cipolla-Neto
(1981), a duração do episódio de sono depende do momento da curva circadiana da
temperatura central em que se dá início o sono, que quando iniciado de 4 a 6
horas após o pico de máxima da temperatura maior é sua duração.
Como mostra a figura: 1
Figura 1
: Relação entre a duração média dos episódios de sono e a fase da curva
circadiana da temperatura central. (Adaptado de Zulley & Wever, 1982).
Fonte: Cipolla-Neto, J. Fisiologia do sistema de temporização
circadiana.
In:---.Introdução ao estudo da cronobiologia.
São Paulo. 1981, cap. 3, p. 91.
Muito tem se pesquisado a
respeito da incógnita que é a regulação do sono, entretanto ainda hoje, existe diferentes hipóteses tentando explicar este
"mistério" da natureza.
BORBÉLY (1994), aborda três
processos para descrever a regulação do sono: (1) um processo homeostático,
responsável pelo sono e a vigília; (2) um processo circadiano, relógio que
define alternância de períodos de sono e vigília; (3) um processo ultradiano,
que acontece no interior do ciclo de sono e é representado pela alternância do
sono REM e NREM.
Duas importantes
descobertas deram origem ao conceitos modernos de
mecanismos neurais envolvidos no sono e na vigília. A primeira descoberta foi a
de HESS, que através de estímulos em uma região diencefálica, consegui produzir
sinais comportamentais do sono normal. HESS, descobriu
também que a estimulação de uma região mais ventral e posterior, na junção
mesodiencefálica, gerava todos os sinais comportamentais do despertar. Essas
observações levaram ao conceito de sono como um processo ativo.
BREMER descobriu, em 1935,
que quando a medula espinhal é seccionada ao nível do primeiro segmento
cervical, com respiração artificial e medidas para manter a pressão sangüínea ( encéphale isolé.), o animal mostra ciclos normais
de sono-vigília, tanto no EEG como nos sinais pupilares. Entretanto quando a
transecção é feita ao nível do mesencéfalo há uma condição semelhante ao sono.
A descoberta de Bremer levou ao conceito de sono como um processo passivo,
fenômeno de desativação- a vigília é um estado ativo
mantido pela chegada de aferências ao cérebro e o sono ocorre quando essa
chagada é interrompida. (MOUNTCASTLE, 1974).
Ultimamente estudos tem demonstrado que mecanismos adicionais envolvem a
ativação colateral de populações neuronais da formação reticular do tronco
cerebral, conceitos oriundos dos trabalhos de Moruzzi e Moruzzi e Morgoun. Esse
sistema neural, em função da sua projeção ascendente em direção ao cérebro,
possivelmente controla o nível de estabilidade do prosencéfalo e, portanto, o
estado de consciência. (MOUNTCASTLE, 1974).
O sistema reticular é
responsável pela regulação dos graus de atividade do sistema nervoso central,
incluindo o controle da vigília e do sono e o controle ,
pelo menos parcial, da capacidade de orientar a atenção para áreas específicas
do intelecto. Esse sistema começa na porção inferior do tronco cerebral e se
estende para o alto, através do mesencéfalo e do tálamo, distribuindo-se pelo
córtex cerebral. A formação reticular identifica as áreas do tronco cerebral
caracterizadas por agregados de células de diferentes tamanhos de inúmeras
fibras nervosas, orientadas en várias direções. . (MOUNTCASTLE, 1974).
Os impulsos nervosos são
transmitidos do sistema ascendentes reticular ao
córtex por duas vias diferentes. Uma via orienta-se para cima (direta) desde a
porção mesencefálica de formação reticular até o subtálamo e estruturas
subjascentes, e daí, então, diretamente para o córtex. A outra (indireta)
orienta-se para cima desde o mesencéfalo, principalmente através dos núcleos
intralaminar e medial do tálamo, para os núcleos ântero-ventral e reticular do
tálamo, e finalmente , através de diversas vias, para
essencialmente todas as áreas do córtex cerebral. Presume-se que a via direta
permite a imediata ativação da função cortical. (MOUNTCASTLE, 1974).
Durante o sono o sistema
reticular é quase inoperante, mesmo assim, quase todos os tipos de sinais
sensoriais podem ativar imediatamente o sistema. Uma vez que a formação
reticular recebe um número enorme de fibras colaterais dos tratos
espinotalâmicos, espinocerebelares, espinotectais, auditivos, visuais, quase
todos os estímulos sensoriais podem ativá-lo. De outro lado, quase todas as
partes do córtex motor mantém ligação direta para o sistema reticular,
particularmente do córtex sensório motor. Isso explica o fato da atividade
motora normalmente estar associada a um alto grau de vigília. (MOUNTCASTLE,
1974).
A alternância entre
períodos de sono e vigília pode ser explicada através de três mecanismos ou
sistemas, de retroalimentação positiva.
No primeiro deles, a
ativação do sistema reticular intensifica muitíssimo o grau de atividade do
córtex cerebral. A atividade aumentada do córtex cerebral, por seu turno,
aumenta o grau de atividade do sistema reticular. O mecanismo de
retroalimentação positiva tende a manter ativo o sistema reticular, uma vez
iniciado o processo. (MOUNTCASTLE, 1974).
No segundo mecanismo, a
atividade aumentada do sistema reticular eleva o tônus muscular em todo o
corpo, juntamente com o aumento das atividades autonômicas. Esses efeitos
periféricos originam impulsos somáticos aumentados, que se transmitem para o
SNC, retroalimentando o sistema. (MOUNTCASTLE, 1974).
Existe um terceiro
mecanismo de retroalimentação positiva, que resulta dos estímulos dos nervos
simpáticos pelo sistema reticular, ocasionando a liberação de adrenalina, que
exarceba a atividade deste sistema. (MOUNTCASTLE, 1974).
Uma vez ativado o sistema
reticular, os impulsos de retroalimentação, tanto do córtex quanto da periferia,
tende a mante-lo excitado. Assim, depois de uma pessoa entrar em vigília ela
tende a manter-se desperta. Ao se prolongar o estado de vigília, as células do
sistema reticular tornam-se menos excitáveis e o grau de atividade de todo o
sistema começa a diminuir. A intensidade da retroalimentação se reduz,
ocasionando a uma depressão do sistema reticular dos circuitos de
retroalimentação, conduzindo a um estado de sono. (MOUNTCASTLE, 1974).
Após algum tempo
inoperante, os neurônios envolvidos voltam aos poucos ao grau normal de
excitabilidade. A reação do despertar se dá pela ativação do sistema reticular.
A vigília se faz quando algum sinal de despertar inicia a excitação e novamente
os circuitos de retroalimentação passam a funcionar transportando o indivíduo
do estado de sono para o de vigília. (MOUNTCASTLE, 1974).
O sono ocasiona efeitos
fisiológicos sobre o próprio sistema nervoso e sobre outras estruturas do
organismo. A vigília prolongada esta associada a uma progressiva redução da
função da mente e das atividades de comportamento, desempenhadas pelo sistema
nervoso. O sono restaura o "equilíbrio" normal entre as diferentes
partes do SNC28 . Este fato se assemelha
"a volta ao zero" dos computadores
A
medida que o indivíduo adormece, o tônus muscular diminui e instala-se
movimentos oculares lentos, perceptíveis no estágio1 (um).
Embora movimentos corporais
grosseiros existam em todos os estágios de sono, a transição entre o sono
REM/NREM representa o momento de sua ocorrência máxima. (Montanha, 1996).
Durante o sono NREM há um
decréscimo progressivo da freqüência cardíaca e respiratória e uma pequena
alteração da pressão sangüínea, durante o sono REM ocorrem pequenos aumentos
dos níveis médios dessas medidas. Existe também, no sono REM um aumento do fluxo
sangüíneo e do consumo de oxigênio no cérebro e sinais renais e
endocrinológicos de ativação pelo SNC.
No sono REM, encontrando-se
os mecanismos automáticos para controle da temperatura inativados. Quanto á
esfera sexual, é justamente no sono REM que se instalam a cada noventa minutos,
reações penianas e clitorianas. (Adams; Victor, 1985; Baker, 1985).
Durante o sono de ondas
lentas, sono NREM, a atividade simpática diminui enquanto a atividade
parassimpática aumenta. Portanto segue-se um sono repousante onde a pressão
sangüínea arterial cai, os vasos cutâneos se dilatam, a atividade do trato
gastrointestinal às vezes aumenta, os músculos entram num estado
preponderantemente relaxado e a taxa de metabolismo basal cai de 10 a 30%. (GYTON,1988).
A privação do sono tem um
efeito extremamente extressante para a mente humana e tem
sido utilizada extensivamente, em alguns países, para "persuadir
indivíduos difíceis" a seguir ideais políticos e também obter
confissões políticas de prisioneiros que nada tem a confessar.
A privação do sono em
animais foi estudada por vários pesquisadores, e Legendre escreveu a respeito.
Detectou alterações que ocorrem principalmente na região pré-frontal e
incluíam, entre outras coisas, vacuolização do citoplasma e desaparecimento do
corpúsculo de Nissl. (SONO NOVOS CONCEITOS [197-]).
Nissl,
descobriu também que se o liquor de um cão privado de sono fosse
injetado num cão desperto, produziria dano celular semelhante no cérebro desse
animal, e também traria sonolência e até hipotermia que é um concomitante do
sono. Entretanto quando o líquor do cão privado de sono era oxigenado, esses
efeitos já não ocorreriam no cão normal. (SONO NOVOS CONCEITOS [197-]).
Após uma noite sem sono, os
olhos ardem, o estômago doe, há um aumento na produção de suco gástrico
ocorrendo asía, a atenção e os reflexos diminuem. Além de uma mal estar
generalizado com dores nas articulações e diminuição da resistência.
No homem, o primeiro efeito
da privação de sono manifesta-se no comportamento e, depois de 60 horas de
privação, atinge uma condição muito próxima daquela produzida pela intoxicação
alcoólica. Esquecimento, imprecisão diploplia e um certo grau de irascibilidade
são sintomas comuns nesse estágio. Entretanto, a maior diferença entre o estado
do alcoolismo e o da privação de sono está no considerável abaixamento do
limiar da dor que ocorre no último caso, e que se torna mais baixo a medida
qual a fadiga se torna extrema. (SONO NOVOS CONCEITOS [197-]).
Fadiga, irritabilidade,
sentimentos persecutórios, déficit da atenção, desorientação e distúrbios da
percepção seguem-se freqüentemente à deprivação
prolongada de sono. Mas raramente advêm sintomas neurológicos transitórios como
tremores de extremidades, nistagmo horizontal, transtornos de equilíbrio,
fraqueza na flexão da nuca e distúrbios da expressão da linguagem. (Adams;
Victor, 1985; Reimão, 1990).
Pesquisadores pensam que há
provavelmente uma resposta ao efeito estressante da privação do sono de maneira
semelhante à do eixo hipofisário-adrenal passando pelas fases de alarma,
resistência e finalmente exaustão. (SONO NOVOS CONCEITOS [197-]).
Em indivíduos normais (que
dormem durante à noite), 80% dos distúrbios do sono
são devidos a causa emocionais tomadas no seu sentido mais amplo. A dificuldade
em adormecer, que é normalmente sentida pelo paciente ansioso e neurótico, com
o tempo cria um grau de insônia que por sua vez age como um fator adicional de
estresse sobre a personalidade do paciente. (SONO NOVOS CONCEITOS [197-]).
Por causa da dificuldade em
adormecer, se instalam toda uma série de "Pequenas
Patologias" ou "Disfunções Transitórias", comumente
designada de fadiga ou "Stress" e que podem, mediante um longo
período de permanência em situação de ansiedade, se converterem em doenças e,
entre estas, a doença mental. Por outro lado, alguns tipos de doenças mentais,
podem causar distúrbios do sono.
Os distúrbios do Sono
sempre existiram e fazem parte do cotidiano do homem. Entretanto, com os
avanços da era moderna e com o modo de viver das grandes metrópoles, os
distúrbios do sono se intensificaram, dando margem a preocupações de
pesquisadores que, só na década de setenta, padronizaram os distúrbios do sono.
Em 1975, é fundada a
Association of Sleep Disorders Centers que veicula, já em 1979, a
"Classificação dos distúrbios do sono e da vigília", com quatro
grandes subdivisões: os transtornos de iniciar e manter o sono, os distúrbios
da sonolência excessiva, as parassonias e as alterações do padrão sono-vigília.
(Montanha, 1996).
Dissonias: Distúrbios
intrínsecos do sono
Distúrbios extrínsecos do sono
Distúrbios do ritmo
circadiano.
Referem-se especialmente
aos distúrbios primários do sono, promovendo tanto sonolência excessiva quanto
dificuldade para iniciar e manter o sono. Correspondem, de modo genérico, às
desordens incluídas sob a designação DIMS (desordens de iniciar e manter o
sono) e DOES ( desordens de sonolência excessiva),
classificação de 1979. (Montanha, 1996).
Parassonias: Distúrbios do despertar
Distúrbios da transição
sono-vigília
Parassonias usualmente
associadas ao sono REM
Outras parassonias.
Parassonias "são
distúrbios que, mesmo não configurado alterações primárias dos estados de sono
e de vigília interferem no processo normal do sono, modificando sua expressão." (Montanha, 1996).
Distúrbios do sono de
natureza médica ou psiquiátrica:
Associados com distúrbios mentais;
Associados com distúrbios neurológicos;
Associados com outros
distúrbios de natureza médica.
Dentre os distúrbios de
natureza psiquiátrica, Montanha (1996), destaca: psicoses; ansiedades;
alcoolismo, doenças do pânico; demência; parkinsonismo; epilepsia relacionada
com o sono; cefaléia relacionada com o sono; isquemia miocárdica noturno;
doença pulmonar obstrutiva crônica, asma relacionada com o sono; refluxo
gastroesofágico; doença ulcerosa péptica; síndrome de fibrosite.
Dentre os distúrbios de
natureza médica, Montanha (1996), aponta: mioclomia fragmentar, distúrbios do
sono relacionado com à menstruação ou gravidez,
laringoespasmo relacionado ao sono e síndrome da subvigilância.
Desde os anos setenta,
quando pesquisadores estabeleceram as primeiras desordens do sono, as medidas
de sonolência e agilidade evoluíram como ferramenta principal para diagnosticar
e descrever as desordens do sono, particularmente desordens de sonolência
excessiva.
No momento, a técnica usada
para avaliar a sonolência de dia, em humanos, experimentalmente e clinicamente,
comumente é o(MSLT). Este método foi desenvolvido em
1970 na Stanford Universty Sleep Research
Center e alcançou tal aceitação difundida, provavelmente, por causa de sua
aproximação intuitiva simples para sonolência e, porque, provê varias
oportunidades para testar episódios do sono REM, o sinal diagnóstico principal
de narcolepsy. (CARSKADON, 1994).
O (MSLT), através de
parâmetros polisonográficos, quantifica a sonolência na ausência de alerta,
determina a ocorrência de sono REM. Consiste na medida da duração de cochilos
(20 minutos), em intervalos de duas horas. (CARSKADON, 1994).
A polisonografia é uma
técnica que baseia-se em registro
eletroencefalográfico, ao qual são incorporadas monitorizações fisiológicas
como atividade muscular, ocular, freqüência cardíaca, ventilação e oximetria.
(Culibras, 1990).
O polígrafo mapeia
graficamente os sinais fisiológicos, subscrevendo-os em função da voltagem e do
tempo. Analisando esta representação gráfica é possível quantificar e
caracterizar o sono, avaliar a sua arquitetura e descrevê-lo segundo as
alterações dos parâmetros fisiológicos detectados. (Reimão, 1990).
O teste de manutenção de
vigília idealizado por Browman e colaboradores, constituí
o reverso do MSLT; mede a capacidade do cliente permanecer desperto em quarto
escuro e confortavelmente sentado por períodos de vinte minutos.(Orr, 1985)34 .
Além dessas técnicas
mencionadas anteriormente ainda dispõe-se de técnicas Subjetivas menos
sofisticadas, mas que no entanto são de muita
importância para as pesquisas de distúrbios do sono e são: estudos de caso;
entrevistas; questionários; escalas
O tratamento para as
desordens do sono, requer uma abordagem sistemática
pelos profissionais que lidam com o problema e se faz necessário detectar os
fatores etiológicos que deram origem a esse tipo de distúrbio.
Além da escolha
terapêutica com ansiolíticos, antidepressivos e psicoterapia, estudos
demonstram que medidas terapêuticas gerais como orientação sobre higiene do
sono, técnicas psicoterapêuticas comportamentais e a administração de
hipnóticos se faz útil para uma grande variedade de insônias.
2.2.3 - O Sono do Trabalhador: As Alterações e os Distúrbios
Decorrentes do Trabalho Noturno
A obtenção de bom
desempenho profissional depende muito de a pessoa começar a trabalhar
descansada. O cansaço não só impede o bom rendimento físico como também diminui
o nível de atenção e perturba sensivelmente a coordenação motora e o ritmo
mental. (Rutenfranz et al, 1989).
A duração do sono é
claramente menor nas pessoas que trabalham no turno noturno. (PHILLIPS et al.,1991; Ferreira,1987;
MOORE EDE et al.,1985; Rutenfranz et al.,1989; Akerstedt,1990; SILVA et
al.,1995; ILDA,1995; GRANDJEAN, 1998; FISCHER et al., 1993).
A duração média do sono de
dia do trabalhador noturno é de 6 horas.(GRANDJEAN,1998;
IIDA,1995; Rutenfranz et al.,1989).
Além de ter uma redução
significativa no sono, 26% se comparado com o sono noturno de trabalhadores do
turno da tarde, o trabalhador noturno, tem a qualidade do sono alterada devido
aos distúrbios do sono que o trabalho em turnos acarreta.
Um trabalhador noturno, ao
dormir após o seu plantão, terá seu sono encurtado em pelo menos um terço,
quando comparado com o repouso normal da noite. (PHILLIPS et al,1991)
Akerstedt (1990), refere
que mais de cinqüenta por cento dos trabalhadores em turno exibem algum tipo de
transtorno do sono.
William e Sanderson (1986),
afirmam que em cada cem trabalhadores em turnos setenta informam algum
distúrbio do sono, com a seguinte distribuição:
·
dificuldade
para iniciar o sono.........................................87%
·
irritabilidade e
fadiga durante o trabalho.........................71%
·
falta
de restauração após o sono.......................................52%
A redução no período de
sono causada pelo trabalho noturno ocorre pela mudança forçada do horário de
dormir, que passa a ser de dia. Dormir durante o dia é extremamente
desfavorável devido à não adaptação dos ritmos biológicos a esta inversão do
trabalho noturno e repouso diurno. As crianças em casa e o trânsito são
apontados como as principais causas de barulho que dificultam o sono diurno.
(Rutenfranz et al, 1989).
Fatores endógenos e
exógenos explicam a brevidade do sono diurno, Sabe-se que ocorre término
prematuro do episódio de sono quando este se instala durante a fase ascendente
do ciclo da temperatura.(AKERSTDET,1990).
"Quanto aos
determinantes externos, Knauth e Rutenfranz informam que 78,8% das pessoas que
dormem entre às 7:00 e às 19:00 horas são
interrompidas por barulho". (Montanha, 1996).
A ocorrência de distúrbios
do sono em trabalhadores em turnos, em diferentes ramos de atividade, segundo
estudos realizados por (Rutenfranz et al,1980;
Knauth,1983)36 , são :
·
aproximadamente
4%-7% dos trabalhadores diurnos;
·
aproximadamente
5%-30% dos trabalhadores em turnos sem horário de trabalho noturno;
·
aproximadamente1%-95%
dos trabalhadores em turnos com horário de trabalho noturno;
·
aproximadamente
80%-90% dos ex-trabalhadores em turnos no tempo em que exerciam suas atividades
nos horários noturnos. Com a transferência para o `turno
diurno, suas perturbações de sono diminuíram, cerca de 20%.
O rompimento do sono do
trabalhador em turno, representa uma das maiores
causas de incidência de riscos mais altos de acidentes entre trabalhadores em
turno. (MOORE EDE et al,1985).
A causa de sonolência e
diminuição do desempenho no turno noturno, é aparentemente
influenciada pela combinação dos fatores: alteração na ritmicidade circadiana e
distúrbios do sono. (Akerstedt,1990).
Segundo ILDA (1995),o desempenho medido pelo tempo de reação é nitidamente
inferior para o turno da noite. Em geral os melhores desempenhos eram
apresentados pelo turno da tarde, ficando o turno da manhã em situação
intermediária. Ficou assim demonstrado que o desempenho dos trabalhadores no
turno da noite é comparável ao de um trabalhador diurno que tenha passado uma
noite inteira sem dormir.
Diferentes trabalhos feitos
no mesmo período do dia apresentam dificuldades e desgastes variados, serão
mais cansativos se realizados à noite. Os erros são mais freqüentes às 15 h ou
às 3 h da manhã, quando a temperatura corporal atinge picos inferiores.
(Rutenfranz et al.,1989).
AKERSTED (1990), afirma que
"setenta por cento dos trabalhadores noturnos apresentam sonolência todas
as noites".
Estudos de simulação de
vôo, realizados por AKERSTED (1990), demonstram que a habilidade para conduzir
um simulador à noite, pode diminuir a um nível que corresponde ao consumo
moderado de álcool (0,05% álcool no sangue), pelo piloto.
As alterações
gastrointestinais descritas pelos trabalhadores em turno, são
comuns. Estas são classificadas em três tipos: úlceras gástricas e duodenais
confirmadas, de origem psicossomáticas; dispepsias
hopostênicas, associadas a sinais de insuficiência hepática; alterações
intestinais diversas, que se manifestam por constipação, colite, diarréia.
(Ferreira, 1987).
Modificações nos horários
de dormir, trabalhar, comer, provavelmente causam distúrbios de apetite. Uma
vez que à noite, a secreção de suco gástrico necessário para a digestão é,
mínima. (Rutenfranz et al.,1989), ou seja, há
alteração no sistema gastrina-ácido-pepsina. (PHILLIPS, 1991).
Desconforto gástrico,
distúrbios do apetite, constipação e diarréia são freqüentes entre
trabalhadores em turno. (KNUTSSON, 1989).
Consumo elevado de álcool e
fumo, são fatores conhecidos na etiologia da doença
péptica, e são mais elevadas nos trabalhadores em turno. (MOORE EDE et al.,
1985).
Em uma pesquisa com 11.258
pessoas, sobre distúrbios do apetite, em diferentes tipos de turno, (Rutenfranz
et al, 1989; KNAUTH, 1983) demonstrou que houve perturbações do apetite em aproximadamente:
·
5%-30% dos trabalhadores diurnos,
·
5%-20% dos trabalhadores em turnos alternados
com horários noturnos de trabalho,
·
40% dos trabalhadores em horários noturnos
contínuos, e
·
55% dos trabalhadores em turnos antes da mudança
para horário diurno.
GRANDJEAN (1998), afirma
"Temos fortes razões para acreditar que o trabalho noturno não é o único
causador de lesões, mas que ele representa uma sobrecarga extra e um fator de
risco adicional para estas doenças. Por isso, é certamente seguro procurar como
motivo da incidência aumentada de perturbações nervosas e problemas
gastrointestinais, em primeiro lugar: a fadiga crônica por perturbações do
sono, e as condições desfavoráveis de alimentação".
Vários estudos
identificaram uma incidência mais alta de doença cardiovascular, especialmente
o enfarto agudo do miocárdio entre trabalhadores em turno, em contrapartida à indivíduos do mesmo sexo e idade que trabalhavam de dia.
(Moore-Ede et al,1985; Phillips1991; Akersdet,1990;
Rutenfranz et al,1989).
A prevalência de fatores de
risco para a doença coronariana( como fumo e nível de
trigliceridios) parece ser maior entre trabalhadores em turnos. (MOORE-EDE et al,1985).
"Pesquisas de Knutsson
& Akerstedt (1986), evidenciaram um maior risco de doenças cardíacas entre trabalhadores
de uma fábrica da Suécia, que tinham problemas de distúrbios do sono".
(FISCHER et al,1993).
Knutson (1989)38 , relata que os fatores de risco associados ao
aparecimento ou agravamento de doenças cardiovasculares, tais como, o hábito de
fumar, dietas mais ricas em carboidratos e lipídios, e mais pobres em fibras,
são mais acentuadas entre os trabalhadores em turnos.
Segundo Alfredson e col.
(1989)39 , existe uma grande incidência de
hipercolesterolemia em trabalhadores em turnos, sendo que de 90% dos infartos
do miocádio ocorrem pela aterosclerose. Isso sugere que os tensores
sociopsicofisiológicos dos trabalhadores por turnos são agentes
hipercolesterolémicos diretos ou indiretos.
Um dos maiores problemas
para o trabalhador em turnos, é a dessincronização que
existe em seus horários, com relação aos demais elementos da sociedade. Os trabalhadores em turnos, em especial o trabalhador noturno, vive
na contra mão, da sociedade. Trabalha enquanto todos dormem e dorme enquanto
todos trabalham.
A participação em
atividades de clubes, associações, no esporte ou na política fica tão limitada
que o trabalhador em turnos sente-se excluído da sociedades,
em um verdadeiro, "isolamento social" (GRANDJEAN,1998; Santos,1993).
Segundo Santos (1993), uma
pessoa que trabalha à noite de forma fixa ou alternada se vê obrigada:
·
submeter-se
aos costumes de sua família, interrompendo mesmo seu sono diurno para almoçar;
ou
·
submeter
sua família a seu próprio horário, o que, às vezes, é impossível quando esta
não é numerosa e especialmente se sua esposa não trabalha fora de casa; ou
·
seguir
seu ritmo parcialmente independente de sua família.
Devido a
perda permanente do sono e todas as alterações na ritmicidade circadiana, pelo
qual passa o trabalhador em turnos. Nos dias atuais já se fala de doença
profissional desse tipo de organização de trabalho.
Cipolla-Neto (1981),
relaciona as doenças referentes aos turnos, com as implicações na ritmicidade
circadiana: eventos ligados ao ciclo da vida humana; ao desempenho mental e
físico, em doenças mentais, na percepção da dor, no aparecimento e intensidade
da cefaléia, nas áreas da hematologia, imunologia e na manifestação dos
processos de proteção imunológica, no funcionamento do aparelho digestivo
excretor.
Segundo GRANDJEAN (1991), o
quadro de doenças do trabalho noturno é dominado pelos mais importantes
sintomas de um estado de fadiga crônica:
·
sensação
de cansaço, que persistem mesmo após o sono;
·
- irritabilidade psíquica;
·
- tendência a depressões;
·
- pouca motivação e pouca disposição para o
trabalho.
Segundo o mesmo autor a
fadiga crônica é acompanhada de uma maior incidência de perturbações
psicossomáticas, são elas:
perturbações do apetite;
perturbações do sono;
perturbações nos órgãos da
digestão;
lesões no estômago e
intestino delgado.
A Síndrome da Mal Adaptação dos Turnos, de acordo com MOORE EDE et al
(1985), se manifesta em indivíduos com incidência alta para distúrbios do sono,
gastrointestinais e possíveis patologias cardiovasculares.
O homem com o transcorrer
dos anos, não se adapta ao trabalho noturno, mas ao contrário, torna-se
progressivamente mais susceptível à doença profissional do trabalho noturno. No
trabalhador mais velho o esforço é maior, e as possibilidades de descanso e
recuperação, menores (GRANDHEAN, 1998).
A idade parece ser um fator
importante para suportar os turnos noturnos. À medida que a pessoa envelhece há
uma tendência a apresentar maior suscetibilidade à ocorrência de perturbações
mais marcantes nos ritmos biológicos (Akerstedt e Torsvall, 1981).
São muitas as necessidades que o
indivíduo manifesta durante a vida e delas depende a sobrevivência do mesmo.
O bem estar depende que estejamos em
harmonia conosco e com o meio que nos cerca.
Há necessidades que são fundamentais a
vida humana. A necessidade de oxigênio, a necessidade de água, a necessidade de
alimento. Entretanto as demais necessidades também são essenciais ao organismo.
O trabalho é uma necessidade que
precisa ser atendida, trabalhando atendemos as outras necessidades, como:
nutrição, habitação, educação, segurança, auto - imagem, imagem, auto - estima,
gregária, locomoção, entre outras.
Entretanto ao atender a necessidade
trabalho, muitas vezes o homem acaba deixando de atender a outras necessidades
que são evidenciadas por essa. A necessidade sono e repouso é uma delas, o
trabalhador noturno, executa suas atividades nesse horário de trabalho para
atender à algumas necessidades e com isso deixa de
atender a outras.
Ao não dormir o trabalhador deixa de
atender a necessidade sono que interfere nas demais necessidades, alterando a
base das mesmas.
Com isso há alterações Psicobiológicas,
Psicossociais e Psicoespirituais na base das necessidades dos trabalhadores
noturnos.
A duração média de sono do trabalhador
noturno após seu plantão é de 4 (quatro horas).
Enquanto a literatura preconiza que esta seja de 6
(seis) horas.
O trabalhador deste estudo, ao dormir
após seu plantão, tem seu sono encurtado, quando comparado com o repouso normal
de noite. Isto ocorre devido ao barulho de carros, crianças, telefone,
vizinhos. Além do pouco tempo, devido a outras atividades que o mesmo executa,
como: cuidar da casa, educar os filhos, ter outro emprego para compensar os
baixos salários da categoria.
Noventa e dois por cento, dos sujeitos
da pesquisa, afirmam ter algum problema com o sono. Estes problemas vão desde a
sonolência excessiva, até a insônia.
Os sujeitos trabalham no turno noturno mas não gostam desse horário de trabalho, 83,73% se
tivessem opção deixariam esse horário.
As alterações gastrointestinais
descritas pelos trabalhadores em turno, são comuns:
desorganização alimentar devido à alterações nos horários das refeições,
excesso de peso devido a ingestão de alimentos com alto poder calórico e baixo
poder nutritivo, indisposição para comer e perda do apetite, devido a mudança
nos horários das refeições. Além disso, existe a sensação de mal estar gástrico
como: dores no estômago, náuseas e constipação.
Um dos maiores problemas para o
trabalhador em turnos, é a dessincronização que existe
em seus horários, com relação aos demais elementos da sociedade. Os trabalhadores em turnos, em especial o trabalhador noturno, vive
na "contra-mão", da sociedade. Trabalha enquanto a maioria dorme e
dorme enquanto a maioria trabalha.
Existe um sentimento muito grande de
solidão nesses trabalhadores. Devido ao esquema de plantões e as atividades que
eles exercem, trabalham nos finais de semana, feriados, datas
importantes para passar com seus familiares, a família fica em segundo
plano.
Outros problemas apontados pelos
trabalhadores noturnos, foram: dor de cabeça,
nervosismo, depressão, dores no corpo, tontura, aversão à claridade, aumento do
tom da voz, diminuição da acuidade visual e taquicardia.
Os trabalhadores noturnos atendem as
necessidades que para eles são prioritárias: educação dos filhos, alimentação,
moradia, transporte, vestuário, sobrevivência. Para isso, submetem - se a
trabalhar em mais de um turno de trabalho, além disso
pela categoria ser quase que exclusivamente de indivíduos do sexo feminino,
ainda são responsáveis pela criação dos filhos, pelas tarefas do lar. E muitas
vezes pela sobrevivência sua e de outros.
Todos os sujeitos da pesquisa
desenvolvem outras atividades no período em que deveriam estar dormindo.
O desempenho dos trabalhadores noturnos
é comparável ao de um trabalhador diurno que tenha passado uma noite inteira
sem dormir.(Ilda, 1995). Sonolência, diminuição do desempenho, alterações nos
níveis de respostas cognitivas e desgaste físico, são comuns nos trabalhadores
noturnos. Com isso há uma baixa produtividade e uma diminuição no desempenho
desses trabalhadores.
O trabalhador noturno executa um
esforço maior para assistir aos pacientes sob seus cuidados.
O sono nesse sentido parece não ser uma necessidade prioritária, os sujeitos dormem quando
dispõem de tempo para isso. E o tempo que dispõem varia de sujeito para
sujeito, mas nenhum delas dorme a quantidade necessária durante o dia (6 horas)
para tentar recuperar o sono da noite que foi perdido.
Sendo assim foi possível apurar que os
sujeitos participantes da pesquisa, trabalhadores noturnos permanentes de um
Hospital Geral, atendem algumas necessidades em detrimento de outras. A
necessidade normatizadora "Filosofia de Vida" parece ser a
responsável pela prioridade realizada.
Os trabalhadores noturnos se submetem a condição do trabalho noturno provisoriamente para alcançar
algumas metas de vida, mais de caráter material, no sentido de aumentar a renda
para satisfazer outras necessidades. Uma vez alcançado tendem a abandonar essa
forma de trabalho.
Com isso, me parece que há uma seleção
(inconsciente) da necessidade a ser atendida. O trabalhador acaba construindo
estratégias para diminuir o dano à nível biológico,
social e espiritual que esse tipo de trabalho acarreta.
Entretanto, apesar dos trabalhadores
noturnos priorizarem as necessidades que vão atender e criarem estratégias para
diminuir os danos causados pelo horário que exercem suas atividades, eles não
mantém o equilíbrio da base de suas necessidades.
Uma vez que das 457 (quatrocentos e
cinqüenta e sete) (100%) manifestações de necessidades surgidas durante o
estudo, o trabalhador deixou de atender a 342 (trezentos e quarenta e duas)
(74,83%), e atendeu parcialmente a 115 (cento e quinze) (25,16%). Isso quer
dizer que ele deixou de atender a um número muito maior de necessidade se
comparada ao número que atendeu.
Sendo que as necessidades mais
comprometidas foram as necessidades Psicobiológicas
53,50%, quando comparadas com as necessidades Psicossociais 40,35% e as
necessidades Psicoespirituais 6,14%.
Necessidades é uma expressão à muito conhecidas por esses sujeitos, que antes de
atenderem a suas necessidades, atendem as necessidades de outros.
Esses trabalhadores, seres mal
cuidados, que ficam as vezes mais de 30 horas
acordados, que chegam em seus ambientes de trabalho, cansados, mal humorados,
stressados, necessitando de quase tudo. São eles que passam à noite velando
outros seres, atendendo as necessidades de outros, sem se dar conta das suas
próprias necessidades não atendidas.
Compreender esses trabalhadores se faz
necessário, e essa mensagem este estudo tenta trazer, afim de
sensibilizar as instituições e profissionais, para mais esse grande problema de
saúde à nível nacional.
Cabe à nos
cuidadores, compreendermos esses trabalhadores, e criarmos junto a eles,
estratégias que favoreçam o atendimento de suas necessidades.
Reflitamos sobre isso.
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